quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

O temido TCC


Se você já foi um universitário ou tem um filho na universidade, entende o valor da temida sigla TCC.

TCC é tudo. O resto é nada. Você é nada, uma ameba, um protozoário perto de um TCC.

O Trabalho de Conclusão do Curso é a greve de existir do jovem. Faz o vestibular parecer um feriado.

O TCC é a TPM do Ensino Superior, a cadeira derretida do inferno, a desculpa para não realizar mais nada.

Não se vive com um TCC. A monografia final da graduação é a fita azul que enrola o canudo, é a provação derradeira para emoldurar o diploma, é o que separa o capelo do céu.

Na teoria, a tarefa se exibe fácil. Arrumar um tema, depois juntar material de pesquisa, atender aos conselhos de um professor orientador e, por fim, escrever 60 páginas. O fim nunca se encerra. No momento de pôr as ideias na tela, o último semestre demora mais três e o pânico devora as letras do teclado como um vírus.

O TCC é o Gulag do adolescente, o exílio solar, a solidão noturna. É o bilhete de suicídio prolongado em livro. É o mesmo que receber simultaneamente a notícia de gravidez e esterilidade.

Não se é humano com o TCC. É um crime se divertir, arejar a cabeça, brincar durante o período. A expectativa de solucionar um problema da carreira a partir de um texto acadêmico torna-se o problema. O futuro ganha o sinônimo de PRAZO ESGOTADO. A esperança tem o subtítulo ANOTAR ALGUMA COISA, QUALQUER COISA, POR FAVOR, ME AJUDA. O sujeito não tem mais passado, mas BIBLIOGRAFIA. Não existe lembrança, e sim FONTE.

Muito fácil reconhecer o graduando na rua. Andará vagaroso, vidrado nos cadarços soltos do próprio tênis, rosto maltratado, remela nos olhos, roupas sobrepostas de quem se acordou agora e pegou as primeiras peças pela frente. Demonstrará irritação e uma dificuldade de entender a lógica do idioma. É um poço de culpa, ou porque não dormiu para estudar, ou porque dormiu e não estudou.

Algumas respostas básicas de um universitário redigindo o TCC:

Você namora? – Não posso agora, estou preocupado com o TCC.
Vamos tomar um café no fim de tarde e pôr o papo em dia? – Não dá, tenho que fazer o TCC.
Que tal Green Valley no domingo? – Nem pensar, estou com o TCC parado.
Topa churrasco de noite? – Nunca, não avancei no TCC.
Um cineminha hoje, para descontrair um pouco? – Desculpa, estou atrasado para o meu TCC.
Onde você está? – Tentando achar uma posição confortável para escrever meu TCC.
Você leu a crônica de Carpinejar em Zero Hora? – Não, só leio o que interessa ao meu TCC.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

50 coisas que (quase) todo jornalista já viveu

(do blog Desilusões Perdidas)


Qual o jornalista que nunca perdeu um puta tempo procurando um telefone num bloquinho velho de anotações? Que nunca esqueceu o nome de um entrevistado? Trocou o nome de um entrevistado? Nunca prometeu largar o jornalismo por um emprego decente? Acabou a noite num bar para comemorar... para comemorar o que mesmo? Teve um branco em frente à tela do computador? Perdeu um texto inteiro que tinha esquecido de salvar? Passou a madrugada escrevendo um frila para entregar no dia seguinte bem cedinho? 

Qual jornalista nunca disse “mês, faz isso comigo, não, acaba logo, vai, por favor”? Ficou todo babão com uma matéria publicada? Fez uma merda enorme e passou o resto do dia se sentindo mal? Ganhou um elogio e passou o resto do dia se sentindo bem? Pensou em ganhar dinheiro escrevendo um blog? Fez um belo nariz-de-cera? Achou que sabia mais do que realmente sabia? Tomou chá de cadeira de entrevistado? Precisou explicar para um tio que, embora seja jornalista, não trabalha na Globo? 


Ficou com preguiça de ouvir a gravação de uma entrevista? Saiu frustrado de uma coletiva por não ter tido tempo ou coragem de fazer uma pergunta? Teve dúvida sobre como escrever “exceção”? Cochilou numa aula de Teoria da Comunicação na faculdade? Se arrependeu de aceitar um frila trabalhoso por uma merreca de grana? Caiu de pára-quedas numa pauta? Teve uma pauta que caiu na última hora? Sentiu medo de não conseguir terminar um texto até o deadline? Chegou atrasado a uma pauta? 


Qual o jornalista que nunca foi chamado de jornaleiro na família? Almoçou porcaria na padoca? Deixou de almoçar? Folgou numa terça ou quarta-feira? Contou uma piadinha num velório de famoso? Xingou um assessor de imprensa em pensamento? Teve sensação de poder com uma credencial no pescoço? Ganhou jabá bem chinfrim? Trabalhou até em sonho? Se imaginou escrevendo “a matéria”, daquelas de mudar os rumos do país? Recorreu ao “até o fechamento desta edição fulano de tal não foi encontrado”? 


Passou um carnaval ou um ano-novo de plantão? Pensou em trocar de editoria? 
Qual jornalista nunca se iludiu? Nunca se desiludiu? Se desiludiu um pouquinho mais? Reclamou do salário? Falou mal de outro jornalista? Comprou rifa com nome de mulher para ajudar algum motorista? Pensou em ganhar um prêmio? Uma menção honrosa? Foi a uma pauta só para paquerar um(a) repórter de outro jornal? Desistiu de trocar o jornalismo por um emprego decente? 


Qual jornalista nunca se sentiu um pouco bipolar?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Sr. Sabe Tudo



"Você pensa que me conhece... mas você não sabe nada sobre mim!"

Tempo

Hoje, amanhã, em um mês. Agora, daqui 20 minutos, em 5 horas. Dizem por aí que o tempo é o senhor da razão, o tal sabichão que vem e arrasta tudo. O tempo pode ser bom, o tempo pode ser ruim. O tempo pode te fazer esquecer, o tempo pode fazer você lembrar.

Seja qual for o momento, em alguma vez no seu dia, você para e pensa nele. Ele te consome! Ele te deixa angustiado, transtornado, irritado. Ele te deixe aliviado, alegre, te dá uma chance de colocar as pernas para o ar. Acordou atrasado, ou foi cedo demais? O ônibus que não passa, que coisa chata esperar. Tem só mais alguns minutinhos de aula, que maravilha. Hoje é sexta, para quê a pressa de chegar em casa?


O tic-tac do relógio é implacável. E também é assunto banal, que não rende mais do que quatro ou cinco parágrafos, sem se parar para perguntar "por que esse cara tá falando as mesmas baboseiras de sempre, que todo mundo já falou?".

Porque deu vontade, porque o tempo tá me consumindo, porque eu  tô vendo muita coisa passar e não consigo aproveitar porque... é tudo culpa do tempo!

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Um show para lembrar - para sempre

Compartilho hoje o texto publicado no Pioneiro, da minha primeira cobertura jornalística fora da cidade.


Um show para lembrar: 
Justin Bieber levantou o público gaúcho nesta segunda-feira, 
em Porto Alegre






No Estádio Beira-Rio, o cantor desfilou hits em espetáculo repleto de efeitos especiais


O sonho de ver Justin Bieber de pertinho se tornou realidade para mais de 120 caxienses, que viajaram em excursão pela Rupestre Turismo para o show da noite desta segunda-feira, em Porto Alegre. Já no caminho, a euforia era grande. Enquanto era exibido no ônibus o documentário Never Say Never, que conta a história do astro teen, as fãs cantavam em uníssono todas as canções. 

Entre expressões como "Estou bastante nervosa" e "Vai ser o melhor momento da minha vida", a emoção crescia. Para muitas jovens, esse seria o primeiro show que encaravam. A espera ainda foi longa. Pouco antes das 17h, um helicóptero sobrevoou o Beira-Rio, levando o público ao delírio. Seria o ídolo? Minutos depois, os DJs da Fat Duo e a banda Dipop levantaram a plateia com os mais variados hits das pistas. 


Às 18h40, a banda norte-americana Cobra Starship subiu ao palco para uma performance enérgica. O vocalista, Gabe Saporta, fez questão de declarar seu amor pelo Brasil, ao pedir uma bandeira para o público. "Sempre foi meu sonho tocar na América do Sul e dizem que a gente sempre realiza aquilo que deseja, não é?", disse ele, antes de puxar o coro com a canção que tornou a banda famosa, Good Girls Go Bad.

Eram 19h48 quando o DJ Tay James subiu ao palco, para iniciar uma contagem regressiva de 15 minutos. Embalando a plateia, intercalou as batidas com frases como "Vocês estão prontos para Justin Bieber" e "Gritem, ele está ouvindo". Passavam-se quatro minutos das 20h horas quando as luzes se apagaram e a maior estrela da noite surgiu, por trás de muita fumaça e efeitos. Ao som de Love Me, regravação de um sucesso da banda The Cardigans, Justin dançou, pulou e carregou a plateia. Emendou Bigger, quando subiu em uma estrutura montada no palco, ficando acima dos músicos. As duas canções, em playback, causaram histeria. "Eu não acredito que é ele mesmo, vai demorar para cair a ficha", gritou a caxiense Paula Torres, 13 anos.

O que se seguiu foi uma amostra do porque o cantor é um dos maiores fenômenos da música pop dos últimos anos: ao cumprimentar os presentes, os gritos foram ainda mais altos. A balada U Smile, composta para as fãs, seguida de Runaway Love, precederam o momento em que o garoto do Canadá mostrou seu talento de verdade. Sentado em um banquinho no centro do palco, tocou violão e cantou - desta vez sem efeito algum - Never Let You Go, Favorite Girl e Trust Issues


Um dos momentos mais esperados da noite - a canção One Last Lonely Girl, onde uma sortuda subiu ao palco, recebeu rosas vermelhas e um abraço meio desajeitado - exaltou os ânimos. As amigas caxienses Nicole Muratore, Giulia Bampi e Gabrieli Rizoni torciam para serem as escolhidas em meio a multidão. "Tenho certeza que vou ser eu!", dizia Giulia. Nenhuma delas teve tanta sorte assim, mas a premiada foi ovacionada pela plateia. 

Um show a parte foram os backing vocals, que seguraram o público enquanto Justin trocou de roupa. O cantor ainda entoou os sucesso Somebody To Love e Never Say Never, precedida de um discurso incentivador. "Eu tenho uma frase que levo comigo e gostaria que vocês levassem com vocês. Quando falarem que seus sonhos nunca vão se realizar basta dizer: nunca diga nunca".


Com um cover da banda Aerosmith, Justin tocou bateria, apresentou seus bailarinos e venerou Michael Jackson. Levantou mais uma vez a multidão ao som de Eenie Meeniee emocionou ao tocar piano em Down To Earth, faixa que compôs para seus pais. As luzes se apagaram, mas a plateia queria ainda mais. Nos três telões montados no estádio, palavras como "Vocês querem mais?", "Então gritem!", abriram espaço para o bis. Em coro, o público pedia uma música em especial: o hit Baby, que fez de Bieber o cantor com mais visualizações de um único clipe na rede. Ao final, uma chuva de papéis picados e declarações de amor.

Justin Bieber é um artista em construção. Dança, toca bateria, violão e piano com maestria. Está em um momento de mudança de timbre, por conta da idade. É um verdadeiro show boy: sabe - e muito bem - conduzir a plateia, formada em sua maioria por meninas adolescentes e tem consciência da histeria que causa. Em, talvez, dois anos, deve despontar de vez. Agora sim preparado - musical e psicologicamente - para encarar o turbilhão.

Para a caxiense Paola Becker, 14 anos, foi uma noite especial. "Não consigo descrever, foi mágico. Quando meu pai me levantou e vi que ele estava me olhando... é indescritível!". No ônibus de volta, a animação ainda estava lá em cima. Entre lembranças dos melhores momentos, frases que marcaram e o que cada uma sentiu, um denominador comum: a certeza de que esse sonho foi sim uma realidade.


* O repórter viajou a convite da Rupestre Turismo.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O último adeus

Isso vai passar

A tradição ‘sufi’ conta a história de um rei que vivia cercado de sábios. Certa manhã, enquanto conversavam, o rei mostrava-se mais calado que de costume. “O que passa com Vossa Majestade?”, perguntou um dos sábios.

“Estou confuso”, respondeu o rei. “Às vezes, me deixo dominar pela tristeza, sinto-me impotente diante de minhas tarefas. Outras vezes, fico embriagado com o poder que tenho. Gostaria de um talismã que me ajudasse a estar em paz comigo”.

Os sábios – surpresos por tal pedido – ficaram longos meses confabulando. No final, foram até o rei com um presente. “Gravamos palavras mágicas no talismã. Leia-as em voz alta, sempre que estiver muito confiante, ou triste demais”, disseram.

O rei olhou o objeto que havia pedido. Era um simples anel de ouro e prata, mas com uma inscrição. Ela dizia:
"Isso vai passar."


#PrayForJohn

Logo, logo... a gente tá ansioso pra te ouvir de novo, parceiro.

Classificados

Procura-se pessoas que não tenham opinião sobre tudo. Que hesitam antes de proferir sentenças definitivas, pois pensamos e sentimos obedecendo ao momento, em eterno conflito entre a razão e a emoção.

Procura-se pessoas que caminhem devagar, absorvendo paisagens e objetos, sem devorar o mundo com a fome de um lobo, sem tanta voracidade. Que saibam observam placidamente quem está ao seu lado, o movimento das estações e o quanto a passaem do tempo nos dá e nos tira.

Procura-se pessoas que ainda se emocionam como na adolescência, diante do estarrecimento do primeiro amor. Que guardam dentro de si um depósito de afeto pronto para ser distribuído diante do anúncio de um abraço, uma palavra destituída de intenções ocultas, um gesto sem outras intenções senão o próprio gesto.

Procura-se pessoas que saibam perdoar os enganos alheios, pois nos mostram, como um espelho distorcido, o quanto em nós é largo o erro. E acolham com naturalidade a possibilidade do perdão. Frágeis, somos como esses caminhantes do deserto que se deixam fustigar pelo vento em busca de uma sombra para descansar. O perdão é essa sombra.

Procura-se pessoas que saibam ouvir sem interpor-se à palavra alheia, sempre a dizer que sua dor é maior do que aquela que estão testemunhando. O acolhimento generoso do que perturba o outro pode ser a chave para compreender o que dilacera a nossa alma.

Procura-se pessoas que acreditam na palavra compaixão, a mais bela que há. Pois somente quando absorvemos o que se passa além da nossa consciência é possível entender a aflição de quem nos pede ajuda. Pedras, plantas e bichos partilham o mesmo destino. Conhecer esta palavra não significa que saibamos gastá-la como um rei perdulário.

Procura-se pessoas que sejam vigilantes de si e do mundo. Reconheçam a fragilidade da vida e saibam urdir uma espécie de teia protetora para os seres e as coisas. Só o instante é luz, núcleo, aventura que se deve colher com os olhos abertos.

Procura-se pessoas que critiquem menos, admirem mais. Ver o outro com generosidade não é sinal de fraqueza, mas a possibilidade de visita-lo em sua própria casa.

Procura-se pessoas que tenham fé. Nm deus, num livro, num amigo, no trabalho que fazem cotidianamente. E saibam ser essa entrega incondicional o primeiro passo para entender que nem tudo precisa passar pela dúvida para ser verdadeiro.

Procura-se pessoas que instiguem a nossa inteligência, desobedecendo o senso comum. Que não saiam pela vida afora com a lista dos dez mais vendidos da semana. É provável que só assim façamos descobertas inusitadas.

Procura-se pessoas que não estejam preocupadas em agradar o tempo todo. Muitas vezes é preciso provocar o descontentamento para que algo avance, adquirindo fisionomia própria. Que digam sim ou não. Mas nunca sim e não, simultaneamente.

Se não se encontrar pessoas com as características acima, ainda assim há que se continuar procurando por alguém que vacile, que saiba esperar, que se acomode dentro do silêncio, que leia poesias em dia de chuva, que estremeça ao calor de outro corpo, que ame a palheta de cores do outono. São elas que instauram um sentido para este breve passeio que estamos fazendo pelo mundo.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Tudo azul da cor smurf


Filme: Os Smurfs
Nota: 9,0

Criados na década de 50, famosos no Brasil por estrearem uma série de desenhos animados nos anos 80, as criaturinhas azuis mais famosas do entretenimento fizeram sua estreia no cinema em grande estilo, em julho deste ano. Os Smurfs, criação do escritor e desenhista belga Peyo, arrebataram milhares de fãs no mundo todo com sua nova história, que mistura personagens animados e "humanos".
Eles são, basicamente, criaturas pequeninas e azuis, como duendes, meigas, e que vivem dentro de cogumelos no meio de uma floresta onde "se sentir azul é uma coisa boa" e "tudo no final vai ficar azul". No mundo deles, cada um tem o seu papel e suas obrigações. Eles são liderados por Papai Smurf, um sábio senhor de mais de 500 anos de idade que consegue prever o futuro e controla as outros 100 criaturinhas.

Destacam-se também o simpático Desastrado, que, como o nome diz, não consegue ficar sem fazer  confusão; o incrível Gênio, que mesmo com tanta inteligência não consegue acreditar em sua capacidade; temos ainda o habilidoso Arrojado, o engraçado Ranzinza e claro, a linda e doce Smurfete, a única mulher do grupo. Você conhece e diverte-se também com o smurf Narrador, o smurf Padeiro, o smurf Pintor e tantos outros.

Na contrapartida do lado bom da história, temos o vilão Gargamel e seu inseparável felino, que garantem os bons momentos. Some a isso um típico casal de Nova York, uma dona de empresa de cosméticos insuportável e ação... comedida, mas real. No meio de uma das trapalhadas de Desastrado, os seis Smurfs atravessam o portal mágico que os fazem cair em pleno Central Park. No ‘mundo real’, encontram o Patrick (Neil Patrick Harris) e Grace (Jayma Mays), que se torna amigo e imprescindível para conseguirem voltar ao seu mundo encantado.


O filme poderia ser classificado como infantil, mas é melhor não falarmos dele genericamente. Com conflitos "de gente grande", é uma história para a família toda. E é uma história encantadora, se vista com outros olhos. Fala sobre superação, crenças, encontros e desencontros, desejos e aceitação. Ok, pode parecer clichê, mas não é. Pelo menos não da forma como é apresentada.

Smurfete sonha em ter uma amiga com quem possa trocar confidências e em poder trocar de vestido. Desastrado é deixado de lado por ser diferente e atrapalhar os outros em suas buscas. Ranzinza não é tão ranzinza assim: tem um lado extremamente sensível e cuidadoso. Papai Smurf lembra aquele avô que todo mundo conhece, paciente e simpático. E Gargamel não é tão vilão assim...

Falando nele, destaque para o ator que o interpreta, Hank Azaria. Assim como os demais “humanos”, ele não é uma animação como os Smurfs. De carne e osso, ele parece mais um produto da computação gráfica, pois é perfeito em suas caras e bocas e consegue fazer com maestria o típico malvado que não dá pra ser levado a sério. Palmas também para as risadinhas que a computação gráfica conseguiu tirar do gato Cruel. 


Efeitos visuais são, com o perdão da repetição, sensacionais. Quem diria que criaturas tão pequeninas e fofas poderiam se incorporar ao agitado dia a dia da maior metrópole do mundo sem parecer artificial? O sucesso foi tão grande que um novo longa já está sendo produzido, e deve estrear em 2012. Talvez, para o próximo, vale acrescentar um pouco mais de "idade" ao filme. E não se espante se você sair do cinema com a canção smurf grudada em sua mente: "La la la la la, cante uma canção... la la la la la, smurf essa canção..."


É um filme pra se assistir despretensiosamente, pra se divertir e lembrar da boa época que foi nossa infância - por mais que tenha sido há tempos atrás, é uma nostalgia das boas. Tudo é tão mais fácil quando se acredita em seres mágicos, não?


terça-feira, 16 de agosto de 2011

Deadline: a linha de morte do jornalismo



"Era isso mesmo o que eu esperava:
comprar um cemitério."
(Assis Chateaubriand, ao comprar e recuperar o jornal Estado de Minas)



Muito antes que as prensas comecem a rodar, o jornal começa a ser feito.  É um trabalho de equipe, intenso e coordenado. Como num jogo de passes, é preciso que cada jogador entregue ao companheiro o bastão da notícia. Notícia, esse objeto abstrato, que só aparentemente está expresso nas palavras. Na verdade, da notícia, enquanto mensagem, vale a compreensão, a representatividade do relato, o valor que previamente se dá a um determinado tipo de acontecimento, que deve ser importante ou interessante. 

Sem isso, nada de notícia. Importância ou interesse são essenciais.

Letras, palavras, fotos, ilustrações, tudo isso somente vale pelo que representa. E pelas consequências junto ao leitor. Vale pelo rumor social que pode causar. Em si, não têm essência nem consistência. O código é a expressão tosca do entendimento humano. E o jornal é a desesperada tentativa de captar o mundo, transformando em tinta impressa a pressa das pressões que o homem sofre todos os dias.

A notícia sobrepaira à página impressa, se espalha da mancha gráfica e se espraia no mundo. O jornal trabalha com um repertório de fatos que nada mais são que os padrões do mundo, as coisas que escolhemos como cotidianas. Mesmo que essa estranha cotidianidade jornalística sejam o inusitado, o grotesco, o excessivamente bom ou a maldade em sua mais requintada forma. De alguma forma, ao longo da História, a história da maldade se sobrepôs. O homem tem o dom do ruim.

A cotidianidade, rotineira e plana, é plena de um vazio e presivível viver. Assim, o jornalismo dedicou-se dar relevo àquilo que foge do comum. E, lamentavelmente, os atos de maldade superam em muito os comportamentos de caridade, solidariedade, humanidade e bem. E, ao trabalhar com tantos fatos, todos recheados de tensão, o jornalismo o faz sob pressão. É o que chamamos nas redações de deadline. Literalmente, "linha da morte", em português prazo fatal, hora-limite. Agora, se você tem uma profissão, digamos, convencional, cumpre expediente litúrgico, atende a uma pontualidade budista, sequer imagina o que é trabalhar numa redação, o que é ser jornalista. E se você gosta de ser assim, jamais seria jornalista. O jornalismo é a tranquilidade em disparada. Ou, como já se disse, jornalismo é a História escrita à queima-roupa.

A matéria-prima do jornal é o mundo e seu almanaque de acontecimentos, o tal repertório a que me referi há pouco. Cria-se assim, entre o jornal e o leitor, uma relação analógica: o leitor sabe que, numa determinada página, encontrará, sempre, um determinado tema - política, esporte, polícia, economia, por exemplo - mas jamais pode, ou pelo menos não deveria, prever qual assunto será tratado.

Explicando: sabe-se que em política a corrupção é quase norma executiva. Político é quase sinônimo de ladrão, pelo menos no Brasil. Assim, a novidade jornalística é: qual será a nova corrupção a ser exposta? Ou, separando cada coisa: o tema é política&corrupção, esses dois irmãos siameses. Já o assunto é a novidade sobre o mais recente corrupto flagrado.

Mas o que quero falar mesmo é a respeito da questão tempo, em função do deadline e seu equivalente literal em português, "linha da morte". Em jornal, adquirimos uma vivência muito especial a respeito da questão tempo. Tempo não apenas enquanto aquele imperceptível passar de horas para o trabalhador de expediente litúrgico, mas para o jornalista, o trabalhador do tempo fragmentado, angustiado.

Para nós, a convivência com o tempo é como conviver com o silêncio, ou com um lago calmo e profundo. Aparentemente, nada está acontecendo, mas, por trás do biombo da calma, o mundo está em ebulição. O grande problema é que os grandes acontecimentos têm algo de secreto, algo de sagrado.  Os criminosos da política, por exemplo, disfarçam seu fervor pelo dinheiro e pelo poder em conciliábulos - perdão pela palavra - e confrarias que ocorrem às ocultas. Há um certo recato no roubar político.

Compete ao jornalista descobrir esses segredos, tão bem guardados como os grandes venenos, aqueles que se ocultam nos menores frascos. E, o mais triste, é que um grande veneno é uma grande arte. Administrá-lo é uma forma de ciência; há um certo saber, no trabalho dos corruptos. Tanto, que neles demoram a ser descobertos. Suas doses são homeopáticas.

O ladrão dos dinheiros públicos tem a perícia de um cirurgião ou a técnica de um pintor do renascimento, ao retocar com suavidade uma nesga de tinta. E, o que é pior, dessa cicuta, o veneno de buscar sempre o novo, algo que também nos contamina, os jornalistas bebem todos os dias. De algum modo nós, os jornalistas, morremos todos os dias com o grande veneno do deadline. Mas renascemos, dia seguinte, com uma nova manchete.

Texto do blog Coisas de Jornal

sábado, 13 de agosto de 2011

Sugestões para atravessar...


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Para atravessar agosto é preciso antes de mais nada paciência e fé. Paciência para cruzar os dias sem se deixar esmagar por eles, mesmo que nada aconteça de mau; Fé para estar seguro, o tempo todo, que chegará setembro - e também certa não-fé, para não ligar a mínima às negras lendas deste mês de cachorro louco.

É preciso quem sabe ficar-se distraído, inconsciente de que é agosto, e só lembrar disso no momento de, por exemplo, assinar um cheque e precisar da data. Então dizer mentalmente "ah!", escrever tanto de tanto de mil novecentos e tanto e ir em frente. Este é um ponto importante: ir, sobretudo, em frente.

Para atravessar agosto também é necessário reaprender a dormir. Dormir muito, com gosto, sem comprimidos, de preferência também sem sonhos. São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons, deixam a vontade impossível de morar neles, se maus, fica a suspeita de sinistros angúrios , premonições. Armazenar víveres, como às vésperas de um furacão anunciado, mas víveres espirituais, intelectuais, e sem muito critério de qualidade. Muitos vídeos de chanchadas da Atlântida a Bergman; muitos CDs, de Mozart a Sula Miranda; muitos livros, de Nietzche a Sidney Sheldon. Controle remoto na mão e dezenas de canais a cabo ajudam bem: qualquer problema, real ou não, dê um zap na telinha e filosoficamente considere, vagamente onipotente, que isso também passará.

Zaps mentais, emocionais, psicológicos, não só eletrônicos, são fundamentais para atravessar agostos. Claro que falo em agostos burgueses, de médio ou alto poder aquisitivo. Não me critiquem por isso, angústias agostianas são mesmo coisa de gente assim, meio fresca que nem nós. Para quem toma trem de subúrbio às cinco da manhã todo dia, pouca diferença faz abril, dezembro ou, justamente, agosto. Angústia agostiana é coisa cultural, sim. E econômica.

Mas pobres ou ricos, há conselhos -ou precauções- úteis a todos. O mais difícil:evitar a cara de Fernando Henrique Cardoso em foto ou vídeo, sobretudo se estiver se pavoneando com um daqueles chapéus de desfile a fantasia categoria originalidade... Esquecê-lo tão completamente quanto possível (santo ZAP!): FHC agrava agosto, e isso é tão grave que vou mudar de assunto já.

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu - sem o menor pudor, invente um. Pode ser Natália Lage, Antonio Banderas, Sharon Stone, Robocop, o carteiro, a caixa do banco, o seu dentista. Remoto ou acessível, que você possa pensar nesse amor nas noites de agosto, viajar por ilhas do Pacífico Sul, Grécia, Cancún ou Miami, ao gosto do freguês. Que se possa sonhar, isso é que conta, com mãos dadas, suspiros, juras, projetos, abraços no convés à lua cheia, brilhos na costa ao longe. E beijos, muitos. Bem molhados.

Não lembrar dos que se foram, não desejar o que não se tem e talvez nem se terá, não discutir, nem vingar-se , e temperar tudo isso com chás, de preferência ingleses, cristais de gengibre, gotas de codeína. Se a barra pesar, vinhos, conhaques - tudo isso ajuda a atravessar agosto. Controlar o excesso de informações para que as desgraças sociais ou pessoais não dêem a impressão de serem maiores do que são. Esquecer o Zaire, a ex-Iugoslávia, passar por cima das páginas policiais. Aprender decoração, jardinagem, ikebana, a arte das bandejas de asas de borboletas - coisas assim são eficientíssimas, pouco me importa ser acusado de alienação. É isso mesmo, evasão, escapismos, explícitos.

Mas para atravessar agosto, pensei agora, é preciso principalmente não se deter de mais no tema. Mudar de assunto, digitar rápido o ponto final. Sinto muito, perdoe o mau jeito, assim, veja, bruto e seco: .

(Crônica de Caio Fernando Abreu,
publicada em agosto de 1995
no jornal O Estado de São Paulo)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Someone Like You

Quem tem medo das curvas?

Ninguém nos ensina a lidar com a vida. Parece piegas, mas é verdade. Quando somos crianças, na ânsia de acertar e se mostrar melhor do que pensam que podemos ser, nos jogamos de cabeça em todas as situações e momentos do dia a dia e não medimos consequências. Nossos pais nos apoiam, veem nossas falhas como tropeços de alguém que está apenas trilhando seu caminho, descobrindo. Você nunca vai saber se você não tentar, não é?

A questão é que isso nunca muda. Não vamos centralizar a nossa infância, mas o fato é que crescemos acreditando em coisas semelhantes, desejando coisas semelhantes e não investimos na mudança. Não estou generalizando, caros 3 ou 4 leitores fiéis, é apenas uma questão de consentimento. 

Por partes. Imagine as situações.

Hipótese 1: eu não quero constituir família, porque meu amigo de escola disse que a dele é uma bagunça. A minha não é, mas se a dele é, pode ser que no futuro a que eu constituir também seja. E agora?
Hipótese 2: eu não quero ser médico; meu pai diz que ser médico é o melhor pra mim, minha mãe sonha em me ver vestindo um jaleco. Ah, mas me disseram por aí que tem que estudar constantemente, então eu não sei se quero isso pra mim. E agora?
Hipótese 3: eu quero viver a vida escrevendo história. Minha mãe acha que é loucura, meu pai diz que eu tenho que fazer outra coisa também. Ah, mas minha professora disse que eu tenho talento e meu vizinho falou que o pai dele edita livros. E agora?

Percebe, caro leitor? São situações triviais, que citamos como hipotéticas, mas que podem acontecer com qualquer um. A forma como se encara os fatos é que torna tudo diferente. Não estou pregando o "tresloucamento", mas o livre direito de pensar como você quiser. Opiniões são sempre bem vindas, claro. Dicas, conselhos e informações são preciosidades. Mas não podem ser tornar diretriz.

Ora, se você não quer ser médico, não o seja! Vai ser mochileiro, então. Viaja por aí, descobre outras coisas geniais, volta para a sua casa, escreve um livro, case-se, tenha filhos, um deles será médico e... pronto. A gente tem a irritante mania de querer complicar tudo, quando é tão mais fácil descomplicar. Ser livre não significa não ter parâmetros, mas seguir o instinto e o desejo interior. Fácil. As vezes.

Não importa o quão complicada as coisas pareçam, sempre dá-se um jeito. E é você quem tem que decidir. O bom humor de hoje, que se torna o mau humor amanhã e a bipolaridade de depois de amanhã só faz com que você aprenda a lidar com as subidas e decidas da montanha-russa que é nossa vida. O dia a dia é complicado, e como eu disse lá no início, ninguém nos ensina. A gente tem que aprender sozinho.

Quebrando a cara, acertando, errando. Aquela coisa tradicional, caindo e levantando. É difícil as vezes, eu bem sei. Mas, caro leitor, não é impossível. Desculpa se meu texto saiu de nenhum lugar e foi pra lugar nenhum. Só queria escrever.

Volta sempre. E isso serve pra você também, dona inspiração!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Uma carta para Sandy

Reproduzo hoje um texto sen-sa-ci-o-nal do jornalista Zeca Camargo, publicado em seu blog pessoal. O post fala sobre as polêmicas da cantora Sandy e sua entrevista para a revista Playboy. Vale a pena a leitura! 

Sandy, muito prazer

Eu já te entrevistei um bom par de vezes, Sandy. Já assisti a alguns de seus show – em especial aquele de “despedida” da parceria com seu irmão. Já li muitas entrevistas suas – e já te vi em incontáveis programas de televisão – inclusive no que eu trabalho, em outras reportagens que não assinei. Assim como milhares (milhões!) de fãs, eu achava que te conhecia bem – talvez com uma pequena vantagem com relação a esses outros admiradores, pelo fato de eu ter chegado um pouco mais perto de você, quase sempre em ocasiões profissionais. Mas só agora, depois que li a entrevista que você deu à revista “Playboy”, eu posso dizer que conheci uma Sandy diferente – talvez mais próxima do que é a Sandy “de verdade”. Talvez mesmo até uma Sandy mais “estudada” para provocar o público de uma revista masculina (nunca se sabe…) – mas, sem sombra de dúvida, uma Sandy mais honesta. E isso, nesse mundo deliciosamente maluco do “showbizz” é o que realmente interessa.

Sei que entro no assunto dessa sua entrevista com certo atraso – mas sei também que você vai compreender meus motivos. Teria sido fácil eu comentar em cima da divulgação da sua entrevista – um processo normal, quando se trabalha com mídia, de lançar algumas “aspas” (entre aspas mesmo, como a gente costuma dizer no jargão jornalístico), para criar um boca a boca a boca de algo que ainda não foi lançado.  Mas seria mais um comentário vazio, e certamente fora do contexto – tão estridente quanto todos os que vimos circular alguns dias atrás nesse meio que já tem uma queda para a histeria… Então preferi esperar que a revista chegasse às bancas, que eu pudesse ler com calma tudo que você falou – e aí sim, tirar minhas conclusões. E minha primeira reação, sem medo de me repetir, é essa: muito prazer, Sandy.


A essa altura, dois parágrafos depois (uma “distância” que a maioria dos cínicos de plantão na internet não costumam alcançar), creio já ter espantado os oportunistas que estavam só esperando para ler o que eu iria escrever para alfinetar não só suas repostas mais ousadas à “Playboy”, mas minhas própria palavras escritas especialmente para você. Assim, a essa altura, sinto-me à vontade para cumprimentá-la pela coragem e maturidade que você demonstrou ao longo da conversa. Mais do que sua opinião sobre práticas sexuais (já falo disso mais adiantes – tenho que afugentar mais alguns curiosos desavisados que improvável e teimosamente talvez tenham acompanhado o texto até aqui!), o que eu queria destacar é a sua transparência e, sobretudo, sua capacidade de surpreender não só seus fãs, mas também os marmanjos que tinham aquela fantasia sobre sua figura.

Fantasia essa que, como você colocou muito bem, era a da “virgem do Brasil”. Para eles (e elas também, certo meninas?), o ideal seria que você continuasse a cultivar essa imagem para sempre. Claro! Essa era a fantasia erótica perfeita para boa parte desse público. Mas ao contrário deles – que, mesmo sem admitir, adorariam viver numa eterna adolescência – você cresceu. Casou, transou, gostou (ainda que, como você deixa no ar na entrevista, de maneira bem-humorada, não necessariamente nessa ordem…). E agora se sentiu à vontade para falar sobre tudo isso. Esse desmanche da fantasia, creio, é o que causou tanta sensação com relação às suas declarações – e que, secretamente, arrasou o coração de milhares de admiradores com a própria vida sexual claudicante por todo o Brasil. Você acha que alguém que tinha você em alta conta nas suas fantasias eróticas gostou de ler você dizendo: “Se meu marido me acha gostosa, então pra mim já basta”?

Esse é, claro, apenas um exemplo da franqueza com que você encarou as perguntas – e que eu, como jornalista, tiro meu chapéu (para os dois lados, entrevistada e entrevistadoras – a editora Adriana Negreiros e a repórter Camila Gomes). Naquelas linhas, encontrei uma Sandy que, mesmo tendo sido pego de surpresa, eu talvez já esperava que existisse – afinal, você já é uma mulher, de 28 anos, num casamento feliz! Aliás, como você também coloca, a essa altura você é “uma pessoa bem resolvida, casada, tudo certo”! Ninguém vai admitir isso, mas o que deixou parte dos seus admiradores chocados foi isso – e não a sua opinião sobre prazer e sexo anal.

Acho que quatro mil toques depois (sem duplo sentido, por favor – como diria o “venerado” repórter Agamenon Mendes Pereira!), já podemos falar sobre isso – sem medo de estarmos sendo lido por alguém que só quer se aproveitar disso para fazer uma piada sem graça e gratuita (com você e/ou comigo), que não seria nada além do reflexo do próprio desejo reprimido de quem se manifesta. Mas eu divago… Vamos voltar para a entrevista!

Suas aspas “polêmicas” (sim, agora as aspas estão em outra palavra – e você sabe porquê) trazem a seguinte declaração, feita depois da colocação “Dizem que mulheres não gostam de sexo anal. Você concorda com isso?” (o fato de a pergunta ter sido feita por uma mulher mas colocada na “terceira pessoa anônima”, o tal “dizem”, cria um pequeno ruído na conversa, mas vamos deixar barato…): “Então… Não tem como responder isso sem entrar numa questão pessoal. Mas falando de uma forma geral, eu acho que é possível ter prazer anal sim, porque é fisiológico. Não é todo mundo, Deve ser uma minoria que gosta”.

Pronto! Foi o que bastou para que todo um levante de falsos defensores do pudor se manifestasse. Não faltaram os que se mostraram horrorizados – horrorizados! – com a possibilidade de que você, a Sandy dos sonhos deles, mostrasse que tinha uma opinião sobre um assunto que eles mesmos não têm coragem de discutir na sua intimidade, nem mesmo “dentro de casa” (a não ser que muito bêbados, numa noite em que finalmente eles resolvessem convencer suas esposas de tentar algo diferente…).

Percebe a ironia, Sandy? Esse time de pseudo defensores da moralidade viu na sua declaração uma oportunidade “mágica” de poder falar daquilo que não ousam – mas desejam… (ou, pelo menos fantasiam!). O tabu – que, ao que parece, você cutucou – não estava dentro da sua cabeça, mas justamente na daqueles que fizeram questão de se mostrar escandalizados – escandalizados! – com sua “ousadia”. Que é, diga-se, a de discutir – e, como ficou claro na edição da entrevista, de um ponto de vista genérico, e não pessoal – um assunto que eles fingem não existir.

Como ilustração, conto aqui um episódio que eu mesmo vivi recentemente – e que tem a ver com a sua entrevista. Numa conversa entre amigos (alguns deles jornalistas), acabamos caindo nessa sua declaração – que havia “explodido” na internet, e que, justamente por esbarrar num tema “delicado”, mostrava-se virtualmente impossível de repercutir. Que outro veículo, que não a própria “Playboy”, teria espaço para tratar do assunto – que tornou-se, sem dúvida, popular, de uma maneira que não fosse vulgar? Nem preciso dizer o quanto a discussão foi ficando cada vez mais “quente”, até que a certa altura, eu já um pouco irritado com o nível crescente da hipocrisia sugeri: “Por que não começam a repercutir o assunto em casa, para ver a reação das suas esposas e maridos – e aí sim ver uma maneira interessante de desenvolver uma matéria?”.

O assunto acabou ali mesmo.

Percebe o que você fez, Sandy? Chacoalhou a intimidade de um monte de casais – e mesmo de solteiros com mentes “criativas” –, simplesmente porque deu uma opinião (genérica, e não pessoal – é bom sempre reforçar) sobre um assunto que mesmo gente que se diz tão liberada, tão “moderna”, tão “cabeça aberta”, não consegue discutir sem melindres. Foi divertido ver o desenrolar desse quiproquó nesses últimos dias – uma “bola de neve” que, como tudo que é “polêmica” que surge na internet, passou mais rápido do que o calendário conseguiu acompanhar…

Mas o que fica disso, pelo menos para mim, é a imagem de uma artista ainda mais legal – que é você. É realmente delicioso ver que você cresceu, e essa parte dos seus fãs não… É um pouco como se você agora estivesse dando o troco – depois de anos de deixarem explorar sua imagem (um processo que tinha, pelo menos em parte, a sua cumplicidade), parece que agora você é quem estivesse finalmente manipulando eles, como quem diz: “tolinhos… vocês acham que podem controlar o que eu penso…?”. Nada disso, eu entendi bem. Por isso, renovo minha confiança em você como uma pessoa bacana, Sandy.

E escrevo isso não pelas aspas do sexo anal, mas por tantas outras ao longo da entrevista, que me convenceram de que você – independente do rumo que sua carreira for tomar (cantora? atriz? mãe?) – está com as rédeas da sua vida na mão. Afinal, quantas pessoas, ao serem perguntadas sobre um outro assunto tão delicado como a traição no casamento, sem se apoiar na surrada muleta da religião, teria a lucidez de responder: “Homem gosta de sexo, gosta de variedade, gosta de experimentar. Só que, quando ele tem um autocontrole e um amor tão grande, isso dá força para se controlar e ele consegue ser fiel.”?

Vai que a vida é sua, Sandy. E se a gente se encontrar por aí numa outra entrevista – nunca se sabe – pode contar com o dobro de respeito e o dobro da admiração que eu já tinha por você!

Um beijo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Verdades sob a rocha

Filme: 127 horas
Nota: 10



A história real do famoso alpinista Aron Ralston, que tem que amputar seu braço para salvar a própria vida após ficar preso em uma caverna, é o norte do premiado, elogiado e louvável 127 horas, do diretor Danny Boyle. Preso contra a parede de um desfiladeiro isolado em Blue John Canyon, no Parque Nacional de Canyonlands, no estado Norte-Americano de Utah, Ralson é o herói de si mesmo. Sem ter comunicado o seu destino para ninguém, nos cinco dias seguintes ele tem que ganhar coragem para sobreviver com os meios disponíveis (pouca água, alguns equipamentos de escalada, uma lanterna de LED e um canivete praticamente cego). 

Entretanto, durante as horas que passa preso, o jovem vai ficando psicologicamente afetado, passando a ter lembranças de amigos e familiares e lembrando de coisas que teriam salvado sua vida - e não o levariam até aquele destino. Esquecer o canivete, a bebida isotônica e até mesmo não ter atendido sua mãe ao telefone no dia  anterior. Momentos e fatos que o levam ao seu destino. Em dado momento, ao exclamar que "essa pedra tem me esperado minha vida toda", o personagem, vivido com maestria por James Franco, expõe a fragilidade humana esboçada em um simples sorriso. 

127 horas é um desses filmes para se ter na estante. Ver, rever e assistir mais uma vez. Um filme repleto de lições, de ensinamentos essenciais para o ser humano. Valores, crenças, destino. Seja qual for o nome que você decidir dar à isso, essa roda incessante da vida que te põe em cheque, é preciso assistir aos 94 minutos do filme de Boyle com a mente aberta. Aberta porque você ser confrontado em muitos momentos com os seus medos, questionamentos e a preocupação com aquilo que você deveria ter feito mas não fez.


James Franco, conhecido por seu papel antagonista em Homem-Aranha, colheu os louros de seu trabalho nesse ano de forma especial. Visto como um dos mais promissores atores de sua geração de Hollywood, esteve a frente da cerimônia do Oscar 2011 (onde concorria a Melhor Ator pelo papel em questão), recebeu mais de 8 nominações internacionais, que resultaram em 3 prêmios, e viu seu salário dobrar. Paralelo a isso, novos convites a todo momento e os títulos de um dos homens mais influentes e mais sexys da América. É mole ou quer mais?

A história, que o mundo conheceu, é previsível. Você já sabe o que ele vai fazer ao final de tudo. Mas, mesmo assim, o filme é memorável, surpreendente. Com uma fotografia excelente e recursos de imagem diferenciados, como detalhes, câmera em mão e um fluxo de consciência do personagem, o diretor prende a atenção de quem assiste sem que a ideia do que fazer lhe venha a mente tão cedo.

A cena da mutilação, que causou alguns desmaios nos cinemas mundo afora, é real e intensa. Verdadeira, sofrível. É impossível não sentir uma pontinha de dor ao ver Ralston se torcendo para quebrar os ossos do braço direito ou sentir-se enjoado ao vê-lo colocar o dedo na ferida para identificar o lugar exato que precisa cortar o músculo. É assim mesmo, de tirar o fôlego. A falta de água e comida e as intervenções do tempo fazem com que o espectador entenda, mesmo de longe, que o instinto e sua vontade de sobreviver farão de você um vencedor, independente de sua condição. Vale lembrar que o personagem documenta todos os momentos vividos com uma pequena câmera digital - sobreviver é também estar ligado, não?

Aclamado pela crítica, não tão premiado como deveria, 127 Horas é um filme sobre o poder da força interior de cada um. É justamente fazer pensar e incomodar que ele se propõe. E consegue... É no momento que os raios do sol invadem a caverna onde está preso e tocam seu pé que o alpinista expõe sua mais íntima faceta: querer ser visto e lembrado, sem deixar de lado o bom relacionamento e nem perder as referências.

É para sentir. Seja qual for o sentimento.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

The Lazy Song

'Cause in my castle I'm the freakin' man!


Entre o bem e o mal

Filme: Cisne Negro
Nota: 10

A bailarina Nina Sayers é movida exclusivamente pelo desejo de superação, por tornar-se a "prima ballerina" da companhia onde atua. Em seu caminho, porém, está O Lago dos Cisnes, o balé de Tchaikovsky que o diretor pretende apresentar em uma montagem "crua e visceral".

Para Nina, viver o Cisne Branco não é um problema, afinal ela partilha com a personagem suas qualidades metódicas e virginais: é pura, inocente e encantadora. O desafio é a interpretação de Odile, o Cisne Negro, a encarnação da sensualidade e sedução. Se quiser estampar o cartaz da companhia, agora que a primeira bailarina anterior foi aposentada, Nina terá que superar seus medos e, como a protagonista do balé, transformar-se.


Refém da perspectiva de Nina, o público acompanha a desintegração de sua sanidade enquanto ela enfrenta a pressão do diretor, a superproteção da mãe e a chegada de uma excitante bailarina concorrente (Mila Kunis). Na busca pela perfeição e na tentativa de provar que é capaz de expor seu lado mais selvagem, Nina é conduzida de tal forma pelo papel que interpreta que não consegue perceber os limites entre sonho e realidade, que começam a definir sua vida. Aos poucos, seu destino se sobrepõe ao enredo de “O Lago Dos Cisnes”. Seu lado negro, exemplificado pela essência de sua feminilidade, aflora e toma conta de sua personalidade sem que ela consiga controlá-lo. Dá-se inicio a uma metamorfose (física, mental, imaginativa, real, ou todas ao mesmo tempo) que conduzirá a protagonista a conflitos que levarão, personagens e plateia, a um destino perturbador.


A delicadeza do Cisne Branco e a sensualidade do Cisne Negro são vividos por Natalie Portman com maestria. Provavelmente, se lembrarmos do início de sua carreira, não apostaríamos em Natalie como uma provável vencedora do Oscar. Com papéis um tanto "apagados" e atuações mornas, a atriz consolidou-se e despertou aos olhos da academia e do público ao estrelar "Closer" (papel que lhe rendeu um Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante).

A carga dramática da história, a incrível mudança de personalidade da bailarina e as loucuras que a esquizofrenia pode causar são brilhantemente interpretadas, com uma entrega sem tamanho. Portman se mostra uma verdadeira estrela. Sua dedicação e desempenho lembram o trabalho de Heath Ledger em "Batman - O Cavaleiro das Trevas". O ator viveu tão intensamente a personagem que levou para sua vida pessoal alguns dramas e conflitos. Em 22 de janeiro de 2008, o corpo de Heath foi encontrado em seu apartamento nos Estados Unidos, e sua causa morte foi divulgada como uma overdose acidental de medicamentos prescritos. A medicação era resultado de algumas crises de ansiedade, insônia e confusão causadas pelo excesso de trabalho. Em 23 de fevereiro de 2009, a Academia deu a Heath o segundo Oscar póstumo da história, por seu desempenho como Coringa.

Seja pelo impacto do desfecho, seja pela pressão psicológica compartilhada com os personagens, o lado branco ou o lado negro do cisne interior que cada um carrega em si será convidado a se manifestar. Assista, tire suas conclusões. A vida de cada um é assim, feita de escolhas...



sexta-feira, 10 de junho de 2011

Nunca é tudo

Crônica de Gilmar Marcílio, publicada no Jornal Pioneiro.

"É provável que nossa época seja lembrada como a que buscou perfeição em quase todos os campos da atividade humana. Há um esforço extremado para se conseguir a excelência, esquecendo que precisamos conviver com a falha, a fissura, o incompleto. A consequência natural dessa atitude é a frustração, pois, em termos concretos, quse nunca alcançamos o limite estipulado em nossa mente.

Tenho visto relacionamentos saudáveis se desmachando só porque, num dado momento, numa circunstância específica, uma das pessoas envolvidas não conseguiu atingir as expectativas sonhadas pelo outro. Diante da primeira decepção, passou a aser imperativa a necessidade de romper a partir para a próxima. Conselheiros profissionais de última hora invadem as colunas de jornais e revistas para nos dizer que só os fracos persistem em algo quando vislumbram sinais de desgaste. É preciso seguir em frente, sempre em frente. Considero essa decisão precipitada, quase infantil.

Alinho-me mais à ideia de que é necessário continuar investindo nas pessoas, no trabalho, nos prazeres, à revelia de alguns sentimentos de desconforto que possam surgir. O que estamos querendo, uma reedição do paraíso, aqui e agora? Só a possibilidade de se debruçar mais longamente sobre o que nos pertence, seja na esfera emocional, seja na profissional, faz com que um projeto de vida mais maduro se torne possível. Difícil se conformar com a premissa de que o absoluto pertence aos deuses, não aos homens. Negando isso, só nos resta o consolo de ir experimetando aleatoriamente, sem nos fixar em nada.

TEm me incomodado, ultimamente, a constatação de que estamos investindo cada vez menos no duradouro, naquilo que aspira ao eterno, mesmo sendo provisório. Pobre daquele que não idealiza ser o primeiro, o que se destaca, o merecedor de que os holofotes incidam sobre ele. A verdade é que não há lugar para tantos gênios no mundo. Gênios da computação, do amor, da amizade, da medicina. Quase todos, quando nos esforçamos, acabamos ficando na média. Nem num extremo, nem no outro. E muitas vezes nos surpreendemos cansados, querendo repouso, longe do esforço exigido para alcançar tanto superávit na esfera das relações.

Vemos surgir cada vez mais na mídia especialistas, homens e mulheres que derramam sobre nós conselhos simplórios e oportunistas, quando não irreais. Você pode, você precisa ser tudo, nos dizem a cada aparição. Coitados de nós, tão distantes desse ideal. O resultado dessa dissonância? Um sentimento de total inadequação com o que nos cerca. A vontade renovada de imitar os vencedores. Tão poucos, esses, que tantas vezes vivem subterraneamente um sem número de tristezas por ter de vender essa fisionomia feliz, contente, longe da realidade nossa de cada dia.

Interessam-me particularmente os enredos que não estão destinados a se tornar obras-primas. Gosto de quem se parece com essas brochuras que encontramos nos sebos, manchadas, gastas pelo uso - prenhes de humanidade, no entanto. Não me sinto mais seduzido pelo novo, pelo impecável. Isso já não faz parte do meu repertório. Quero reconhecer-me também no erro, nas tentativas que muitas vezes ficaram aquém do que eu pretendia.

Não faço aqui a apologia do fracasso. Pretendo apenas tirar das costas o peso de um compromisso quase sempre impossível de cumprir. Flertar com a modéstia pode ser um bom exercício para descobrir o grau absurdo de exigências que recaem cada vez mais sobre nós. Não sonhar sempre com o pódio nos relaxa e faz descobrir a grandeza das vidas comuns. A minha e a sua."

#Dia23 - Algo que você deseja

Mudança.

"Só o que está morto não muda..."


quarta-feira, 8 de junho de 2011

O Semeador de Estrelas

Existem momentos em nossa vida que, por mais que queiramos, não conseguimos enxergar o óbvio. O Semeador de Estrelas é uma estátua localizada em Kaunas, Lituânia. Um exemplo daquilo que está diante de nós, mas é ignorado pela visão fechada e conturbada que temos no dia a dia.

Durante o dia, ela passa despercebida.


Mas, quando a noite chega, a estátua justifica seu nome...


Que possamos  sempre ver além daquilo que está diante de nossos olhos, hoje e sempre...

“Nem tudo que se enfrenta pode ser modificado, mas nada pode ser modificado até que seja enfrentado”.
(Albert Einstein)