quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Why don't you come on over?

50 manias típicas de jornalistas

Do blog Desilusões Perdidas

1. Mania de guardar recorte de matéria pra nunca mais ler.
2. Mania de reclamar demais.
3. Mania de passar a madrugada na internet, mesmo depois de um dia intenso de trabalho.
4. Mania de tomar remédio pra dormir.
5. Mania de achar que sabe tudo.

6. Mania de ter opinião sobre tudo.
7. Mania de se sentir perseguido por todos.
8. Mania de querer salvar o mundo.
9. Mania de liberdade.
10. Mania de acreditar que um dia a coisa melhora.

11. Mania de recorrer a velhos clichês na hora de escrever uma matéria.
12. Mania de ajeitar o cabelo um milhão de vezes antes do link.
13. Mania de dar carteirada.
14. Mania de comer e escrever um texto ao mesmo tempo.
15. Mania de deixar o teclado todo cheio de gordura e resto de comida.

16. Mania de querer tudo pra ontem.
17. Mania de fingir riqueza pros vizinhos.
18. Mania de ter um blog.
19. Mania de chegar atrasado às pautas.
20. Mania de tomar café.

21. Mania de escrever um texto enorme e depois ficar cortando pra caber.
22. Mania de ir pra rua e ficar olhando pra tudo e todos, feito cachorro que vive preso em apartamento.
23. Mania de ler 50 vezes o próprio nome estampado na primeira página do jornal.
24. Mania de falar mal dos outros, principalmente de outros jornalistas.
25. Mania de declarar guerra aos assessores de imprensa.

26. Mania de achar que tudo pode render, pelo menos, uma nota.
27. Mania de ficar feliz com qualquer presentinho, feito cachorro carente.
28. Mania de rabiscar umas três frases por página do bloquinho e já pular pra outra.
29. Mania de encher o saco dos amigos na caça de bons personagens.
30. Mania de encher o texto de aspas.

31. Mania de ser DJ nas horas vagas.
32. Mania de ser poeta nas horas vagas.
33. Mania de ser esquisito.
34. Mania de namorar outros jornalistas.
35. Mania de roubar a pauta dos outros.

36. Mania de “produzir” fotos, de orientar personagem, de acabar com a naturalidade.
37. Mania de ser saudosista.
38. Mania de requentar informação.
39. Mania de fazer pergunta óbvia.
40. Mania de se fingir de morto na reunião de pauta pra não pegar roubada do chefe.

41. Mania de pisar no pé do colega na luta pra chegar mais perto do entrevistado.
42. Mania de achar que vai conseguir furos fuçando no Twitter.
43. Mania de desorganização.
44. Mania de parecer envergonhado na hora de tietar entrevistado famoso.
45. Mania de esconder o time de coração quando se é jornalista esportivo.

46. Mania de se sentir mais importante só porque trabalha num jornal grande.
47. Mania de se sentir menos importante só porque trabalha num jornal pequeno.
48. Mania de ir ao bar e passar 76,7% do tempo falando só de jornalismo.
49. Mania de ir ao bar e passar 23,3% do tempo discutindo quem é e quem não é gay na redação.
50. Mania de dizer que não tem manias.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Stronger.



"O que não te mata... te deixa mais forte".

O jornalismo cultural perde um de seus mestres


Todo escritor tem um gênero caixa-preta, que não abre em vida. A poesia foi o esconderijo estilístico de Guimarães Rosa, de Clarice Lispector, de Lúcio Cardoso. E de Daniel Piza, uma perda irreparável para a literatura e o jornalismo, falecido aos 41 anos, na virada de 2012.

Piza mostrou as garras afiadas de ensaísta, contista, ficcionista. No fundo, era um poeta bissexto. Secretamente devaneava versos. Há um livro de sonetos inéditos na gaveta - pode procurar em seu valioso espólio. Sua alma fora armada para capturar voos extravagantes e raros. A acidez defendia a delicadeza. A ironia protegia a inocência.

Possuía a vocação ao verso curto, à máxima densa e acachapante. Flâneur do desespero, conde do humor, escrevia com agudeza insuportável.

- Quem fala ‘no meu tempo’ o tempo inteiro já não tem muito tempo - provocava.

Sua independência vinha em primeiro lugar, soberana. Não poupava colegas, não escapava dos debates frontais. A resposta não representava um direito, e sim um dever. Como um verdadeiro intelectual, contava com poucos amigos, mal enchia um café. Já seus inimigos renderiam procissões e comícios. Até porque a inveja é uma admiração platônica.

Piza foi tão amado quanto odiado. Não conheceu a indiferença.

Não gerava suspiros, mas arroubos. Combatia a falsa ingenuidade, prima do ressentimento. Cavava espaço para diferenças sutis. Advogava a moral (preceitos do caráter) contra moralismo (preconceito), por exemplo.

"Aforismos sem juízo", seção do Estado de São Paulo e reunida em livro pela Bertrand Brasil, é uma coleção impecável de ataques líricos. A graça que dói e garante a grande literatura, lastro de Paulo Francis, Mário Quintana, Otto Lara Resende.

A seleta apavora a etiqueta com inversões. Destrói argumentos com contrapontos. Dizima bocejos com torpedos. Da mesma forma em que Nicanor Parra criou a antipoesia no Chile para conter a hemorragia palavrosa de Neruda, Piza cunhou o antiprovérbio para frear o proselitismo acadêmico. Salvou o jornalismo da tese universitária.

Seus lemas: muito do pouco, clareza agressiva e intensidade do exato. Caracteriza o aforismo como breve, definitivo, pessoal, surpreendente e filosófico. A boa frase começaria de uma ideia comum e morreria com estremecimento de estrela, clarão desconcertante e imprevisível.

- Nada mais crédulo do que não acreditar em nada - advertia.

Piza foi nosso Karl Kraus, nosso Chamfort, nosso La Rochefoucauld. A chance de duvidar das aparências e também das certezas. Desconfiava da meia-verdade, desejava encontrar a verdade e meia.

Não informava, deformava a notícia pronta para que enxergássemos o pensamento sem censura e amarras. Transpirava coragem. Empreendeu a biografia de Machado de Assis (Imprensa Oficial) - rapel da língua portuguesa, tarefa para sepultar reputações. Nunca se alcovitou na preguiça, não recorreu a nenhum dos romances ou contos do Bruxo do Cosme Velho como molde narrativo.

Humildade é elegância. Não apareceu mais machadiano do que Machado. Derrubou a tese de que Machado mudou de repente ao escrever “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1881). Ele não mudou, cresceu de modo coerente e progressivo. Piza revirou jornais, detalhes, miudezas, documentos para reconstituir os 69 anos da vida do maior escritor brasileiro. Furtou a casa de Machado enquanto ele vivia, revelando a evolução estilística do autor na intensa produção de crônicas em jornais e em peças de teatro, descrevendo com cuidado atento (nunca bajulação) a sobrevivência social em ambiente hostil.

Machado disse sobre sua mulher Carolina: “Não acharia ninguém que melhor me ajudasse a morrer”.

A literatura de Daniel Piza ajudará o leitor a viver sem ele. Mas será muito difícil. E completamente injusto.

(Publicado em O Estado de São Paulo - Memória - "A polêmica como ofício: homenagem a Daniel Piza")

A diferença entre um âncora e um leitor de notícias


Crítica publicada no blog do jornalista Maurício Stycer

A figura do “âncora” de telejornal é motivo de alguma confusão no Brasil. Qual é exatamente o seu papel? Neila Medeiros apresenta o jornal “SBT Brasília”.  Um exemplo do tipo de intervenção que um âncora pode fazer foi visto recentemente e se transformou em hit na internet.  Ocorreu após o noticiário que ela apresenta exibir o típico blablablá de um homem público diante do microfone.

Pressionado por uma repórter do SBT, o secretário de Obras de Luiziânia se enrolou todo ao explicar o fiasco nas obras de prevenção a enchentes da cidade. “Criticar é fácil, agora fazer as coisas no período de chuvas é difícil”, ele disse. Um dos culpados, acrescentou o secretário, é a imprensa. “Ao invés de ajudar, ela não deixa a gente trabalhar. Eu tô desde ontem só no telefone e dando entrevista (…) e isso aí atrapalha o serviço da gente”.

Ao fim do VT, Neila não consegue esconder sua revolta e desabafa ao vivo: “Gente, me desculpa, mas dizer que a imprensa atrapalha? Esse buraco onde caiu o caminhão, que vocês viram na matéria, foi anunciado por nós. (…) Não fizeram por culpa da imprensa? Como assim?” E disse ainda: “Por que não fez na época da estiagem? Já ouviu falar em prevenção?



Para quem só vê os noticiários da Rede Globo, a intervenção da âncora do “SBT Brasília” chega a ser chocante. Orientados a parecer mais “humanos”, os principais apresentadores da emissora carioca estão tentando fugir do figurino engessado de outros tempos, mas as suas intervenções são de outro tipo. Eles têm chamado mais atenção pelas gracinhas que protagonizam do que por suas opiniões.

Chico Pinheiro, fã de samba e futebol, assumiu o lugar de Renato Machado, especialista em vinhos, no comando “Bom Dia Brasil”, e passou o final do ano lamentando o desempenho das equipes mineiras no Brasileirão. Cesar Tralli, agora no comando do “SP TV”, foi ao camarim de Zezé di Camargo e Luciano falar sobre as botas novas dos cantores e chamou o mais novo de “Lu”.


Sandra Annemberg, no “Hoje”, transformou uma gafe (“Que deselegante!”) em bordão. Seu companheiro, Evaristo Costa, fez sucesso com uma piada de criança (“gosta de mamão, Sandra?)”. Já William Bonner e sua companheira de bancada, primeiro Fátima Bernardes, depois Patrícia Poeta, se especializaram em ler notícias trocando olhares.



Diferentemente da âncora do SBT, todos estes jornalistas dão a impressão de não ter o direito de dizer o que pensam enquanto apresentam seus telejornais. São chamados de “âncoras”, mas na prática são simpáticos e, agora, divertidos leitores de notícias.

Bonner, Sandra, Evaristo & Cia podem fazer gracinhas ao vivo, mas evitam (ou são impedidos de) opinar, elogiar, manifestar indignação com o noticiário ou se posicionar diante de fatos que merecem mais do que um relato básico. Faz muita diferença, como você pôde ver, na intervenção da âncora do SBT. É só um buraco de rua e um secretário sem noção, mas faz toda a diferença:

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

De tudo um pouco

Pra você, eu desejo de tudo um pouco...

Coragem - para colocar a timidez de lado e poder realizar o que tem vontade.
Solidariedade - para não ficar neutro diante do sofrimento da humanidade.
Bondade - para não desviar os olhos de quem te pede uma ajuda.

Tranquilidade - para quando chegar ao fim do dia,  poder deitar e dormir o sono dos anjos.
Alegria - para você distribuí-la, colocando um sorriso no rosto de alguém.
Humildade - para você reconhecer aquilo que você não é.

Amor próprio - para você perceber suas qualidades e gostar do que vê por dentro.
Sensibilidade - para não ficar indiferente diante das belezas da vida. 
Fé - para te guiar, te sustentar e te manter de pé.

Sinceridade - para você ser verdadeiro, gostar de você mesmo e viver melhor.
Felicidade - para você descobri-la dentro de você e doá-la a quem precisar.
Amizade - para você descobrir que, quem tem um amigo, tem um tesouro.

Esperança - para fazer você acreditar na vida e se sentir uma eterna criança.
Sabedoria - para entender que tudo o que você desejar existe, e o resto é ilusão...

O cliche anti-BBB

Texto de Matheus Pichonelli, na Carta Capital.


Como no Big Brother, existe uma maneira muito simples de a gente parecer mais interessante do que de fato é diante de uma multidão. Basta criar uma conta no Facebook e manifestar desprezo por qualquer coisa que seja popular. Como o Big Brother ou o Orkut.

Em janeiro, quando as inserções do Pedro Bial passam a ser mais frequentes na tevê, o movimento de pudores eletrônicos ganha um tom de campanha política. Depois que inventaram as correntes de Facebook (espécie de tevê a cores a substituir o pré-histórico jogo da velha que indicava uma hashtag), ficou muito fácil manifestar nossos bons gostos e engajamentos pela internet.


Basta compartilhar as fotos com as inscrições “Odeio BBB”, “Fora Pedro Bial”, “Meu sofá da sala não é privada”, “Morte ao Paredão”. Pega muito bem.


Se houvesse um guia prático do internauta moderno (sim, porque existem os internautas da velha guarda, uns que se deixarem mandam até a íntegra da missa aos domingos), a ojeriza aos reality shows seria a regra número 1.


Mas não só.


Para parecer um cara muito legal na internet e na vida, é preciso também:


- Bater no Michel Teló. Sem dó. Como se ele fosse o Sarney. Todo mundo vai pensar que você morre de saudade dos tempos do sertanejão de raiz, ainda que o mais perto que você tenha chegado de um boi foi naquela visita ao Pet Zoo;


- Tenha sempre em seu mural algum auto-retrato pintado da Frida Khalo (serve uma foto em preto e branco) e desenhos estilizados do Tarantino, do Almodóvar, do Che Guevara e daqueles quatro meninos de Liverpool atravessando a zebra de pedestres em Abbey Road. Não é preciso esclarecer a conexão entre eles;

- Faça um minuto a minuto sobre a sua ansiedade pelo próximo show dos Strokes ou do Arcade Fire no Brasil. De preferência, sem pontos de exclamação nos posts, para não ser confundido (a) com fã de pagode;

- Inicie também em sua página a contagem regressiva para a Feira Literária Internacional de Paraty. Pode começar em qualquer época do ano: “Faltam 291 dias para Flip”;


- De vez em quando, diga como anda sua vida acadêmica e comemore em letras garrafais quando chegar a formatura. Não se esqueça de dizer que A-M-A a profissão escolhida. No Facebook não existe gente frustada no campo profissional;


- Conte sempre coisas fofas vividas em ambiente familiar, ainda que te digam que o que se vive entre quatro paredes deva ficar entre quatro paredes;


-Vai a Paris, Roma, Viena ou Nova York? Avise todo mundo pedindo dicas de lugares para os amigos. Chegando lá, não espere a volta para postar impressões e fotos, ainda que você passe 90% do seu tempo livre na sala de internet do hotel;


- Não importa que o Parque Nacional do Xingu fique em Mato Grosso: seja sempre contra qualquer intervenção humana no Pará. Se não colar, lembre também que o País da corrupção não está pronto para receber eventos do porte de uma Copa, uma Olimpíada, um Cirque du Soleil;


- Lista de artistas brasileiros que DEVEM constar das suas preferências musicais: João Gilberto (aquele do “vai, minha tristeeeeeza…”), Chico Buarque (“estava à toa na vida, o meu amor me chamou”), Cartola (ver também: Mangueira. É um morro, além de escola de samba), Noel (o daquela caricatura com nariz grande, cigarro meio desprendido na boca…), Pixinguinha (o moço das bochechas). Engenheiros do Hawaii e Roupa Nova, que te levaram às lágrimas depois daquele fora no colegial, NEM PENSAR. Mantenha certa distância também de Raul Seixas (tiozão demais, coisa de hippie doido);


- Tome duas doses de Clarice Lispector todos os dias. Adicione, de vez em quando, aquele poema da Fidelidade do Vinícius de Moraes (“de tudo ao meu amor serei atento antes…”) e algum pensamento do dia escrito por Mário Quintana ou Caio Fernando Abreu (se não tiver nenhum livro deles em casa, jogue no Google alguma letra sobre despedidas cantada pelo Alexandre Pires. Se não citar a autoria, todo mundo vai achar o máximo). Se estiver de bom humor, use qualquer frase atribuída ao Luís Fernando Veríssimo. Em dias de mau humor, use Arnaldo Jabor (o cineasta e o comentarista são as mesmas pessoas, mas não parece);


- Faça print screen de erros gramaticais alheios e compartilhe, em tom de lamento, o que você considera um erro grosseiro. De quando em quando, solte um: “Maldita inclusão digital”. É tiro e queda;


- Quando algum autor de renome for dar aquela palestra marota no Sesc perto de casa, marque dois ou três amigos em seu mural e provoque alarde para todo mundo saber: “Vamos, né????”. Não esqueça de postar o link relacionado;


- Curta a página de qualquer bar com mais de cinco anos de fundação no entorno da rua Augusta; dê preferência ao Ibotirama;


- Use e abuse de qualquer onda retrô. Está sempre em moda;


- Compartilhe diariamente sua indignação com a política nacional. Lembre todos os dias que o governo não presta e que Brasília seria muito melhor se, no lugar do Congresso, funcionasse um estacionamento. É de bom tom ignorar que os governos totalitários do século XX também transformaram seus Legislativos em estacionamento;


- Não conte, nem sob tortura, que você adora passar no Mcdonalds depois do rolé pelo Espaço Unibanco;


- Deixe sempre claro que você é habitué de lugares incríveis, como as praias de Trindade-Paraty ou o sofá do Outback;


- Compartilhe qualquer reportagem relacionada ao D.O.M, o mais premiado restaurante brasileiro lá fora, e expresse sua intimidade com o nome de Alex Atala.


Feito isso, você espantará qualquer fantasma da breguice e do lugar-comum que contamina este país que a gente gosta de chamar de atrasado. 
Ninguém vai dar a mínima, mas o importante é ficar bem com a gente mesmo. Ou viver cada minuto como se fosse o último. E dormir com a consciência tranquila. Ou qualquer outro clichê que sirva.