quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Despertar aos 40

As vezes buscamos tão longe a felicidade e nem percebemos que ela vive escondidinha, dentro do peito. E então nos deparamos com uma foto dessas, em plena terça-feira, 4 horas da tarde. Você para de escrever e tudo que está fazendo, os pensamentos desaparecem, e a única coisa que você ouve é seu coração batendo.

Não forte, mas sim banhado em saudade... saudade pelos que já se foram ou que passaram pela sua vida e que a mudaram, mesmo que indiretamente, e que talvez você nem saiba, mas muitas das tuas convicções hoje, sejam produto dessa relação.

Saudade da meninez, do tempo em que o tempo não era "Senhor". Do tempo em que o tempo não era nada se não o dia e a noite. Do tempo em que apenas ficar sentado à calçada com seus "amiguinhos" olhando os carros passarem era a diversão do dia.
Do tempo... ah! O tempo!

Do tempo em que seu avô te pegava no colo e brincava de "rema, rema, remador" e vocês riam tanto disso. Do tempo em que ele te olhava fundo nos olhos, e não acreditava que tinha um neto tão lindo. E então você olha mais fundo e esquece de todo stress, raiva e ambição e sente-se no corpo de criança.

Aí começa o filme em tua cabeça: você crescendo, você chegando a adolescência, um mundo novo para você, das namoradas, e começa a ver tudo que você imaginava para você no futuro, e é tudo tão diferente. Os sonhos... ah! Quantos sonhos, quanta imaginação, quanta pureza, quanta liberdade, quanta vida.

Então é quando você se pega na véspera do seu aniversário de 40 anos, no corpo de criança outra vez, e se pergunta... Será? Será que eu fui justo comigo? Será que ele gostaria de ser o que eu sou hoje?

Então você levanta, vai ao banheiro, lava o rosto, se olha no espelho e percebe, aos 40 anos de idade, que você ainda é aquela criança, aprendendo a viver.

(Eduardo Manciolli)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Um pouco de boa música


Está cansado de ouvir música previsível? É fã de misturas originais? Curte apreciar quem demonstra total prazer no que faz? Então você deve ouvir The Pursuit, o novo CD do inglês Jamie Cullum.

É um álbum que se encaixa feito luva na descrição feita acima. Jamie tem 30 anos de idade, embora pareça ser muito mais novo. O cantor, compositor e pianista já está na estrada há mais de uma década, e lançou seu primeiro disco, Pointless Nostalgic, por uma gravadora maior, em 2002. Desde o começo, Cullum realiza um trabalho de alta qualidade. Ele é basicamente um jazzistica, que toca com maestria e canta com rara personalidade. Sabe tocar standards de nomes como Cole Porter e George Gershwin como se tivesse vivido nos anos 30 e 40.

Mas, ao contrário de muitos outros por aí, ele não se limita a isso, embora pudesse, e ganhando uma bela grana. Cullum tem paixão por soul, pop, rock e funk, e faz questão de acrescentar essas influências ao som que faz. E é aí que a coisa fica realmente bacana. Cullum se apresentou ao vivo em setembro de 2006, na Via Funchal, em São Paulo. A performance do artista britânico foi extremamente elogiada.


O cara canta e toca muito, e é acima de tudo um "entertainer", aquele tipo de artista que cativa a plateia de uma forma que você não consegue tirar os olhos do sujeito, parar de dançar, estalar os dedos e cantar junto. The Pursuit é o quinto CD dele (contando o raríssimo primeiro disco, independente, que teve tiragem de apenas 500 cópias), e pode ser considerado o melhor. Não tem rotina, nem burocracia. Só prazer.

Do início, com uma releitura sublime de Just One Of Those Things, de Cole Porter (com acompanhamento da The Count Basie Orquestra), o cara envereda por baladas psicodélicas, jazz de tempero latino, rock, funk e o que mais pintar em sua frente. Seu estilo de tocar piano está mais fluente do que nunca, e sua voz, ainda mais negróide e sensual. E a capacidade de compor? Das melhores, vide canções como I’m All Over It, You And Me Are Gone (com belo solo de piano) e I Think, I Love, só para citar algumas.

Alguém pode estranhar ele reler um sucesso recente da cantora de rhythm and blues pop Rihanna, Don’t Stop The Music. Mas para quem já tocou ao vivo ou gravou canções de Elton John, Joy Division, Radiohead, Massive Attack e até mesmo Pussycat Dolls, faz parte de seu ecletismo.

E o melhor: a releitura ficou sensacional, ainda melhor do que a versão original. E a letra tem muito a ver com a sua abordagem musical, especialmente no refrão: por favor, não pare a música, não pare a música, a música, a música…

Se a música for de Jamie Cullum, por favor, não pare mesmo!

Texto modificado - Original em R7.com