quarta-feira, 18 de maio de 2011

Pátria Madrasta Vil - Como mudar nosso país?

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade' 

A redação de Clarice, intitulada "Pátria Madrasta Vil", foi inclusa em um livro,com  outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da UNESCO.

Tema: Como vencer a pobreza e a desigualdade'
por Clarice Zeitel Vianna Silva
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - RJ

Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência., exagero de escassez. Contraditórios? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL. Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. 

O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições. Há quem diga que "dos filhos deste solo és mãe gentil", mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil  está mais para madrasta vil. 

A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição! 

É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem. A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão...

Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa). Mas estão elas preparadas para isso?

Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil. Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona? Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos.

Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... ou como bicho?"

quarta-feira, 11 de maio de 2011

#Dia22 - O que te faz diferente do resto das pessoas

Meus 3 ou 4 leitores fiéis devem estar se perguntando se abandonei de vez o famoso Desafio dos 30 dias. Elementar, meus caros: ainda não. Afinal, estando tão perto do fim, por que fazê-lo? A questão é que a "vida" tem me tomado bastante tempo. Bons momentos aqueles em que, de bobeira na internet, passava por aqui com vídeos interessantes, textos motivadores ou engraçados e até mesmo dissertava sobre meus pensamentos e frustrações. Vou voltando, aos poucos. Um passo de cada vez...

E o que me faz diferente do resto das pessoas?

Talvez o fato de #acreditar. É, isso mesmo. Marcado na pele e nas atitudes. Quem me conhece pode dizer que as vezes meu lado pessimista toma conta, mas não é bem assim. Por dentro, bem lá fundo, eu continuo acreditando. Mais do que religiões, crenças são fundamentais. Crer em sua capacidade, em seus objetivos, em sua forma de provar para todos que, como diria o presidente Obama, SIM, NÓS PODEMOS!

E segue.

Viajar

Uma viagem começa no momento em que decidimos fazê-la. Independe de malas, passagem, acomodação. Ela começa dentro da gente – desde que não haja “acomodação”. Viagem é mudança, é instabilidade, é um “agora aqui”, “daqui a pouco lá”. Conhecer seus próprios caminhos ajuda a caminhar, e assim me torno viajante.

A batalha não é pelo dinheiro, pelo destino, pelo tempo real. Minha Londres está em mim e tem que tomar o lugar do Oriente Médio que me ocupa. Quantos textos não saem do papel pelo excesso de reticências? Quantas vezes não fico na cama por falta de insistência? Quantas vezes furo meu próprio pneu e reclamo que o carro não anda? E, ainda assim, por que insisto em viajar em um carro, se não me disponho a aprender a dirigi-lo?

A estrada está lá. “Acelera”, eu sussurro. “Freia”, eu grito. “Acelera”, eu grito. “Freia”, eu imploro. Gosto de sentir o vento na cara, mas às vezes é preciso velocidade para isso. E a certeza vai escorrendo pelas mãos que nunca a detiveram, mas que sempre a confortaram.

Talvez seja mais difícil viajar parado. Tirar o pensamento de uma garagem abarrotada de sucata, meu cérebro, e colocá-lo na highway da vida real, da estrada ora lisa, ora esburacada. A segurança da angústia de que nada vai mudar, de que a paisagem vai ser sempre a mesma, nos impede de tentar abrir outra janela.Você fica na mesma estação e os trens das vidas alheias vão passando por você, em direção à chácara fresca e acolhedora que você quer e não quer – afinal, o portão serve para entrar na chácara, mas também pode ser a saída.

Voar já seria demais. Os pássaros parecem mais felizes. Não têm medo de voar porque não pensam em ter medo; porque não pensam – voam. Tem lá as suas nuvens, mas voam. O infinito lhes pertence e seus medos são outros. O medo de pensar corta as asas; o medo pensado corta as asas; o pensador medroso corta os pulsos. 


Quero Dublin, quero uma ilha, quero uma chácara, quero Sydney, quero Milão, quero Madrid, quero o céu – e não quero pensar. Me deixa viajar...

Ser feliz por nada


Geralmente, quando uma pessoa exclama "Estou tão feliz!", é porque engatou um novo amor, conseguiu uma promoção, ganhou uma bolsa de estudos, perdeu os quilos que precisava ou algo do tipo. Há sempre um porquê. Eu costumo torcer para que essa felicidade dure um bom tempo, mas sei que as novidades envelhecem e que não é seguro se sentir feliz apenas por atingimento de metas. Muito melhor é ser feliz por nada.

Digamos: feliz porque maio recém começou e temos longos oito meses para fazer de 2010 um ano memorável. Feliz por estar com as dívidas pagas. Feliz porque alguém o elogiou. Feliz porque existe uma perspectiva de viagem daqui a alguns meses. Feliz porque você não magoou ninguém hoje. Feliz porque daqui a pouco será hora de dormir e não há lugar no mundo mais acolhedor do que sua cama. Esquece. Mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito.

Feliz por nada, nada mesmo?

Talvez passe pela total despreocupação com essa busca. Essa tal de felicidade inferniza. "Faça isso, faça aquilo". A troco? Quem garante que todos chegam lá pelo mesmo caminho? Particularmente, gosto de quem tem compromisso com a alegria, que procura relativizar as chatices diárias e se concentrar no que importa pra valer, e assim alivia o seu cotidiano e não atormenta o dos outros. Mas não estando alegre, é possível ser feliz também. Não estando "realizado", também. Estando triste, felicíssimo igual. Porque felicidade é calma. Consciência. É ter talento para aturar o inevitável, é tirar algum proveito do imprevisto, é ficar debochadamente assombrado consigo próprio: como é que eu me meti nessa, como é que foi acontecer comigo? Pois é, são os efeitos colaterais de se estar vivo.

Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem. Se é para ser mestre em alguma coisa, então que sejamos mestres em nos libertar da patrulha do pensamento. De querer se adequar à sociedade e ao mesmo tempo ser livre. Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Para que se consumir tanto?

A vida não é um caderno de questionário daqueles que você respondia na escola. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria. Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa.

Ser feliz por nada talvez seja isso.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

William: o príncipe sem charme

Ele não tem o carisma da mãe nem a personalidade do pai – e por isso mesmo pode ser o homem certo para reparar o prestígio da monarquia no século XXI.

O príncipe William apareceu para o mundo aos 15 anos, quando, ao lado do irmão Harry, então com 13, seguiu o caixão de sua mãe, a princesa Diana, no cortejo fúnebre que percorreu as ruas de Londres. O ano era 1997 e as cenas do adolescente entristecido, mostrando uma sobriedade precoce para os seus poucos anos, ajudaram a selar a imagem do príncipe como um rapaz maduro e equilibrado – e transformá-lo numa espécie de ídolo teen. Passados 14 anos, e com muitos cabelos a menos, a grande qualidade projetada por William é a personalidade calma, discreta e “pés no chão”. Do trabalho como piloto de busca e resgate da Força Aérea à escolha de uma noiva da plebe, ele é percebido como uma figura sensata e um exemplo positivo. Qualidades importantes em um futuro rei. Em sua redoma de vidro, sob o olhar atento da mídia e do povo, a família real luta para se adaptar às mudanças que acontecem dentro e fora dos muros do Palácio de Buckingham, sem romper com a tradição que justifica sua existência. O casamento de William, segundo na linha de sucessão da coroa, é um momento importante nesse esforço. Na Abadia de Westminster, foi desenhado o destino da Firma, como a família real Windsor é conhecida entre seus membros. 



William tem nas mãos nada menos que a tarefa de garantir a continuidade da monarquia britânica. Para isso, precisa modernizar a instituição, considerada ultrapassada por muitos críticos. Ao mesmo tempo, e contraditoriamente, deve resgatar valores tradicionais como o casamento e a estabilidade familiar, após décadas de escândalos envolvendo membros da realeza. Não é uma tarefa fácil – viver como um homem normal, comportar-se permanentemente como símbolo de uma instituição e preservar, a despeito dos assédios da imprensa e da curiosidade pública, um espaço de privacidade que assegure sua sanidade e a de sua família. Espera-se que o casamento de William restaure o papel simbólico central da monarquia, de manter os valores de decência na vida pública e privada.

O primeiro grande golpe para a popularidade da Firma foi a separação de Charles e Diana, no início da década de 1990, com troca de acusações de infidelidade. Lady Di era adorada pela população britânica e sua morte em um acidente de carro em Paris, em 1997, representou um momento complicado para a monarquia. Em meio aos lamentos da nação pela Princesa do Povo – termo usado pelo então primeiro-ministro, Tony Blair –, a rainha foi acusada de lidar com a tragédia com frieza, desconectada do luto e da emoção que tomavam o país. Desconcertante também foi o divórcio do príncipe Andrew – tio de William – e Sarah Ferguson, a Duquesa de York. Fotos comprometedoras da ruiva com o dedão do pé na boca do herdeiro texano Steve Wyatt enquanto ainda era casada causaram enorme constrangimento para o Palácio. Mais recentemente, Andrew voltou a ser cercado por polêmica com acusações de fazer negócios com regimes déspotas em sua posição de representante comercial do governo britânico e de manter ligações com o bilionário Jeffrey Epstein, condenado por crimes sexuais. O que spera-se , agora, é que os netos da rainha consertem os prejuízos que surgiram do comportamento dos filhos dela.

Ao escolher uma plebeia, vista pelo público como uma garota normal, madura e equilibrada, William parece estar na direção certa. Juntos, eles criarão uma monarquia moderna do século XXI, que estará mais próxima do povo britânico do que em épocas anteriores. Eles serão mais abertos e mais relaxados, ao mesmo tempo que reterão as tradições de seus antecessores. Se a tarefa de William é a restauração da austeridade, a de seu irmão parece o oposto. Harry manifesta excesso de rebeldia. O príncipe ruivo e festeiro já deu socos em paparazzi na porta de boates e admitiu ter fumado maconha aos 17 anos. Em 2005, causou enorme polêmica ao ser fotografado vestido de oficial nazista em uma festa à fantasia. Agora, aos 26 anos, tenta reverter essa imagem com o trabalho militar. As dez semanas que passou lutando na linha de frente no Afeganistão - no final de 2007 e início de 2008 – missão que foi abandonada por questões de segurança, depois que a mídia australiana vazou a notícia – e a mais recente expedição com veteranos feridos no Polo Norte geraram manchetes positivas.


Embora o primogênito de Charles e Diana não seja carismático – “William não tem nem o glamour de sua mãe nem a excentricidade de seu pai”, diz Neil Blain, autor do livro Media, monarchy and power –, uma pesquisa divulgada recentemente pelo jornal The Sunday Times revela que 59% da população deseja que a coroa, em vez de ficar com Charles, vá direto para William, depois de Elizabeth II. Um terço dos britânicos também gostaria que a rainha abdicasse do trono no prazo de dois anos. Esse resultado reflete o que vem sendo chamado de “efeito conto de fadas” a favor de William. Ainda que haja preferências divergentes em torno do melhor nome para suceder a Elizabeth, não parece haver dúvida na opinião pública britânica sobre a importância da própria monarquia. Uma pesquisa feita pela organização YouGov em novembro revelou que 68% dos britânicos preferem manter o monarca, enquanto 16% gostariam que o país se tornasse uma república. Parte desse resultado se explica pelo papel que reis e rainhas desempenharam na história e ainda ocupam no imaginário popular. É difícil imaginar a Grã-Bretanha sem a monarquia. Esse é um país que ama suas tradições.

Da imagem de Elizabeth II nas notas de libra à coroa que adorna cada chope servido em copo de pint (a medida de 568 mililitros do sistema imperial), a realeza está até nos pequenos detalhes do cotidiano. O monarca faz parte da identidade nacional, assim como a cerveja quase quente, a chuva e o costume de fazer filas. Ele é um fator de estabilidade. Como a Grã-Bretanha é uma monarquia constitucional, a rainha não tem papel executivo ou legislativo, apesar de ser a chefe de Estado. Cabe ao Parlamento eleito pelo voto popular fazer as leis e escolher o primeiro-ministro, que governa de fato. Elizabeth II faz questão de manter posturas neutras mesmo nas situações em que teria o direito de intervir. Essa neutralidade é vista como um ponto que favorece a continuidade da monarquia – opinião tanto de seus defensores quanto de quem gostaria de ver a nação livre dela. 

Simbolismo e a neutralidade contam a favor, mas o custo da monarquia para o contribuinte é um dos argumentos usados pelos que pedem o fim da realeza. A família real custa cerca de 38 milhões de libras por ano (algo como R$ 98 milhões), segundo a contabilidade oficial do Palácio para o ano fiscal de 2009-2010. Isso corresponde a cerca de R$ 1,60 anual para cada habitante do país. Estima-se que o valor seria maior se forem considerados os custos envolvidos na segurança dos Windsors, que não são divulgados. Em tempos de crise econômica, repercutem mais forte as denúncias de que uma casta hereditária de britânicos vive em luxo, riqueza e ócio à custa da maioria trabalhadora e empreendedora do país – e é claro que as acusações atravessam as paredes de Buckingham. No ano passado, o Palácio anunciou contenções de gastos, com a redução do uso de voos fretados e cortes de pessoal. Luxos como o iate Britannia, usado na lua de mel dos pais e dos avós de William, não existem mais. A família real foi rápida em divulgar que o casamento de William e Kate está sendo pago pela fortuna pessoal da rainha e por Charles, com uma contribuição – estimada em seis dígitos – da família Middleton. Mas sairá do bolso do contribuinte o enorme esquema de segurança e policiamento, cujo valor, calculado em dezenas de milhões de libras, também não foi revelado. 

Encerrados os festejos do casamento, é possível que William e Kate busquem escapar do interesse público – e não o contrário. Amigos dizem que o príncipe tem pressa em começar uma família. Por enquanto, ele e Kate continuarão vivendo na cidade de Anglesey, no País de Gales, onde está o trabalho militar de William. Mas a vida sossegada tem prazo de validade. William sabe que um dia, se a vida seguir seu curso natural, seu endereço será o Palácio de Buckingham – e que em suas mãos estará a continuidade de uma dinastia.Ainda há muita história para se contar...


(Texto original: Revista Época - Editado por JZ)