sexta-feira, 10 de maio de 2013

Você sempre pode voltar para casa...

A última crônica



A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever. A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali. A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês.

O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho - um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular. A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "Parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura - ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido - vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.

Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.

(Fernando Sabino)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

E que a sorte esteja sempre a seu favor

Filme: Jogos Vorazes
Nota: 10


Um mundo irreal, dividido em capital e distritos, onde anualmente jovens são selecionados para uma disputa aos olhos de todos. O prêmio final é nada menos que a vida. Essa é a trama de Jogos Vorazes, filme que estreou em primeiro lugar nas bilheterias do mundo todo na última semana de março. A nova sensação do público pode ser comparada ao fervor que lançamentos como Amanhecer - Parte 1, da saga Crepúsculo, e Alice no País das Maravilhas, adaptado de duas obras de Lewis Carroll, causaram em seus lançamentos. 

À primeira vista, o filme parece violento demais. Afinal, ter que matar o outro por sua sobrevivência resulta em violência gratuita, socos, facadas e blá blá blá. Mas é só aparência. De fato, há um quê de agressões, disparos de arco e flecha, ataques de vespas venenosas e lutas corpo a corpo. Contudo, o grande destaque do filme são as relações. 

Uma das novas promessas de Hollywood, a atriz Jennifer Lawrence mostra mais uma vez a que veio. Indicada ao Oscar 2010 por seu papel em Inverno da Alma, ela dá vida a Katniss Everdeen, uma jovem corajosa e determinada, muito apegada a irmã e decidida a fazer de tudo para protegê-la. Elas são moradoras do Distrito 12, o "último", praticamente esquecido pelos governantes. Levam uma vida precária, mas sustentam-se uma na outra. Como é tradição, cada um dos 12 distritos deve ceder anualmente um casal de jovens para venerar a história de seus antepassados na disputa dos Jogos Vorazes. Não é algo a se almejar, como o Big Brother ou o American Idol: a disputa é pela vida. A sorteada é a irmã de Katniss, mas não é nenhum spoiler contar que a heroína se oferece para ir à luta no lugar da irmã. E é aí que a história começa de verdade. 

Junto de Peeta Melark (vivido por Josh Hutcherson), Katniss entra em um processo de transição: precisa aprender a ser mais sociável, a mostrar seus sentimentos e a cuidar de si mesma. Precisa estar em sintonia com seu parceiro, mas não quer deixar para lá o amor do seu vilarejo. Para ajudá-los, dois mentores: o bêbado-não-tô-nem-aí Haymitch Abernathy, interpretado por Woody Harrelson, e o centrado Cinna, que ganha vida com o cantor Lenny Kravitz. É o segundo, inclusive, o grande responsável por transformar a bela jovem na aposta do público: faz dela a "garota em chamas". 



O desenrolar é envolvente. É impossível assistir e não se imaginar diante de uma situação parecida. Talvez seja esse o grande acerto do filme: fazer com que o público transforme a diversão em introspecção e autocrítica. O filme relata com maestria o "sistema": a roda da engrenagem que nos controla e nos direciona conforme os superiores querem. Nesse percurso, construímos amizades, buscamos ideais antigos e somos podados contra a nossa vontade. Um sistema sujo, que manipula a opinião pública. Os mais estudiosos das teorias sobre persuasão têm em mãos um prato cheio para análise. 

Impossível comparar o filme com as histórias do livro de Suzzane Collins, pois ainda não os li. O que se pode dizer é que Gary Ross acertou em cheio em um roteiro que combina agilidade, emoção e identificação. A fotografia também é primorosa: a versão em 3D é fantástica! 


De tudo ficam quatro lições: 
1. Não somos donos de nossas próprias vidas.
2. Travamos, diariamente, várias batalhas: ao sair na rua, no trabalho, nos estudos.
3. Nossas relações influenciam nossas oportunidades.
4. É sempre bom ter alguém em quem confiar... e para onde voltar.


segunda-feira, 18 de junho de 2012

Para ouvir e sentir: um show e uma conversa com Tiago Iorc

Texto escrito por mim para o blog De Hamlet a Teló


Aos primeiros acordes da faixa Umbilical, que dá nome a seu novo disco e a turnê, Tiago Iorc provou que a noite seria um deleite sonoro. Em quase duas horas de espetáculo, o público presente no Teatro São Carlos na última sexta-feira pode identificar os motivos que fizeram desse brasileiro um filho do mundo e expoente do novo pop internacional. Junte isso ao dedilhar impecável do violão, em perfeita simetria com o baterista Guto Teixeira e o baixista Leomaristi dos Santos. Às 21h, o trio subiu ao palco sob aplausos ainda tímidos. O cenário – composto apenas de uma caixa de madeira para a água, os instrumentos e uma iluminação especial – ajudou a criar o clima de intimidade. Público e artista estariam na mesma sintonia em instantes. A segunda música, Story of a Man (e de longe a minha favorita) quebrou o gelo e arrancou os primeiros gritos. Seguiram-se Just So You Know, Patron e Gave me a name, todas do mesmo disco.

Simpático, Tiago fez questão de agradecer ao final de cada canção e também de explicar um pouco sobre a criação de cada novo acorde e melodia que viria a cantar. Voltou aos tempos antigos com as canções do primeiro disco, Let Yourself In, lançado em 2008, como Nothing But a Song, Scared e It’s Not Time, cantadas em coro pela plateia. Ao falar sobre Ducks In a Pound, revelou a história por trás da capa do novo trabalho. Entoou ainda a canção que fez para o amigo e baixista Leo, Even (Song To A Friend), tomou o palco sozinho para os covers de Imagine, de John Lennon e Morena, do grupo Los Hermanos, voltou para o bis com uma das mais esperadas, My Girl, e encerrou ao som da deliciosa batida de Fine.

Dono de um timbre de voz especial e de um talento magistral com o violão, Tiago surpreende com o uso do overlayer, uma espécia de efeito de gravação de faixas de áudio, com o microfone controlado pelos pedais, que compõem um arranjo ao vivo e complementam a música. Ao final das quase 20 canções, ele já carregava o público nas mãos. Mostrou que seu talento ao vivo é muito maior do que o que já conhecíamos, em estúdio. Visivelmente, ele não carrega rótulos. Não se importa em não seguir um estilo, pois mistura o pop, o folk e uma pitada de clássico e de rock. No palco, se entrega à música. E esta o recebe com os braços abertos, para um carinhoso abraço.


Após o show, o cantor atendeu os fãs no hall do teatro e conversou comigo. A voz serena, o sorriso fácil e o jeito que se confunde entre timidez e seriedade, evidenciam sua personalidade. Com 26 anos, Tiago coleciona experiências – e residências: “Nasci em Brasília, mas morei aqui no Rio Grande do Sul, em Passo Fundo, em Curitiba e também nos Estados Unidos e na Inglaterra. Com o lançamento do meu primeiro disco, vivi um tempo em São Paulo, outro no Rio de Janeiro”, comenta, sem esconder a alegria de poder viver de sua maior paixão: a música.

 O lançamento do segundo álbum, no final de 2011, deu a Tiago a satisfação de poder compartilhar suas mais íntimas sensações. “Todas as músicas desse cd eu compus em um momento bem importante da minha vida, onde eu estava um pouco perdido entre o artista e o cara que tem que lidar com as relações, sabe? Elas falam de amor, de amizade, autoconhecimento. É um cd bem intimista, que fala muito sobre quem eu sou hoje”, diz.

É simples defini-lo: um jovem com um talento inegável e vontade de fazer muito mais. Sem se prender no que vem pela frente, Tiago diz que não faz muitos planos. “As coisas acontecem, a gente idealizando ou não”. No que depender dele – e de nós, fãs – esse é só o começo de uma história que ainda tem muitos capítulos para preencher. Para entender sua música, é preciso estar com a mente e o coração abertos. Esse brasileiro que canta em inglês está no caminho dos grandes mestres da música mundial. Ouça, conecte-se e você vai entender. Afinal, sentimentos são universais e ultrapassam as barreiras de qualquer desconhecimento de um idioma.

Ah, e ele ainda deixou um recado: “Parabéns pela iniciativa do blog, continuem em frente. A internet é hoje a grande porta dos novos talentos. Sucesso!”.

Valeu, Tiago. A gente deseja o mesmo. Sempre.

domingo, 20 de maio de 2012

Não canse quem te quer bem


Foi durante o programa Saia Justa que a atriz Camila Morgado, discutindo sobre a chatice dos outros (e a nossa própria), lançou a frase: "Não canse quem te quer bem". Diz ela que ouviu isso em algum lugar, mas enquanto não consegue lembrar a fonte, dou a ela a posse provisória desse achado. 

Não canse quem te quer bem. Ah, se conseguíssemos manter sob controle nosso ímpeto de apoquentar! Mas, não... Uns mais, outros menos, todos passam do limite na arte de encher os tubos. Ou contando uma história que não acaba nunca, ou pior: contando uma história que não acaba nunca cujos protagonistas ninguém ouviu falar. Deveria ser crime inafiançável ficar contando longos causos sobre gente que não conhecemos e por quem não temos o menor interesse. Se for história de doença, então, cadeira elétrica. 

Não canse quem te quer bem. Evite repetir sempre a mesma queixa. Desabafar com amigos, ok. Pedir conselho, ok também, é uma demonstração de carinho e confiança. Agora, ficar anos alugando os ouvidos alheios com as mesmas reclamações, dá licença. Troque o disco. Seus amigos gostam tanto de você, merecem saber que você é capaz de diversificar suas lamúrias. 

Não canse quem te quer bem. Garçons foram treinados para te querer bem. Então não peça para trocar todos os ingredientes do risoto que você solicitou – escolha uma pizza e fim. Seu namorado te quer muito bem. Não o obrigue a esperar pelos 20 vestidos que você vai experimentar antes de sair – pense antes no que vai usar. E discutir a relação, só uma vez por ano, se não houver outra saída. Sua namorada também te quer muito bem. Não a amole pedindo para ela posar para 297 fotos no fim de semana em Gramado. Todo mundo já sabe como é Gramado. Tirem duas, como lembrança, e aproveitem o resto do tempo. 

Não canse quem te quer bem. Não peça dinheiro emprestado pra quem vai ficar constrangido em negar. Não exija uma dedicatória especial só porque você é parente do autor do livro. E não exagere ao mostrar fotografias. Se o local que você visitou é realmente incrível, mostre três, quatro no máximo. Na verdade, fotografia a gente só mostra pra mãe e para aqueles que também aparecem na foto. 

Não canse quem te quer bem. Não faça seus filhos demonstrarem dotes artísticos (cantar, dançar, tocar violão) na frente das visitas. Por amor a eles e pelas visitas. Implicâncias quase sempre são demonstrações de afeto. Você não implica com quem te esnoba, apenas com quem possui laços fraternos. Se um amigo é barrigudo, será sobre a barriga dele que faremos piada. Se temos uma amiga que sempre chega atrasada, o atraso dela será brindado com sarcasmo. Se nosso filho é cabeludo, “quando é que tu vai cortar esse cabelo, guri?” será a pergunta que faremos de segunda a domingo. Implicar é uma maneira de confirmar a intimidade. Mas os íntimos poderiam se elogiar, pra variar. 

Não canse quem te quer bem. Se não consegue resistir a dar uma chateada, seja mala com pessoas que não te conhecem. Só esses poderão se afastar, cortar o assunto, te dar um chega pra lá. Quem te quer bem vai te ouvir até o fim e ainda vai fazer de conta que está se divertindo. Coitado. Prive-o desse infortúnio. Ele não tem culpa de gostar de você.


segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Como terminam as relações - e os sentimentos

Filme: Os Descendentes
Nota: 8

Assim que o trailer foi divulgado, todo mundo só falava no potencial vencedor de muitos Oscars. Com direção do incrível Alexander Payne, Os Descendentes prometia uma visão geral, com tons filosóficos, sobre relacionamentos, família e traição. Mas, decepcionou.

Um inspirado George Clooney dá vida à Matt King, um marido indiferente e pai de duas meninas, que é forçado a re-examinar seu passado e abraçar seu futuro depois que sua esposa sofre um acidente de barco em Waikiki, no Hawaii. O trágico acontecimento acaba por aproximar Matt das filhas, a amável Scottie (Amara Miller) e a temperamental Alexandra (Shailene Woodley), que o ajudam na difícil decisão de vender um terreno herdado da família.


Mas, como o personagem fala no início do filme, "não se deixe enganar pelas aparências". Vale também a máxima de que "nada é tão ruim que não possa piorar". A traição da mulher o leva a caminhos tortuosos, ao descobrir segredos sobre o amante que o envolvem em uma série de problemas.

Apesar de toda pompa, o filme não cumpre o que promete. E é triste, extremamente triste. Quando sai da sala de exibição, naquele dia, fiquei arrasado. A história toca em alguns pontos cruciais e que já passaram pela cabeça de qualquer um, como o dilema de ter que se despedir das pessoas importantes de nossas vidas, que por vezes são tiradas de nosso convívio abruptamente.

A cena em que George aparece correndo de chinelo pelas ruas da sua vizinhança é a antítese da corrida tecnicamente perfeita de um Tom Cruise, e as lágrimas que ele derrama ao dizer adeus a sua mulher por si só já valeriam uma indicação à estatueta dourada. O ator levou o Globo de Ouro 2012, na categoria Melhor Ator de Drama, mas passou longe do cobiçado Oscar.

Os destaques ficam por conta da atuação de Nick Krause, como Sid, o namoradinho da filha mais velha de Matt, e da trilha sonora, que casa perfeitamente com as oscilações na vida do herói da história. Com um enredo um tanto quanto arrastado, humor e tristeza se alternam sem ao menos dar tempo para o espectador assimilar o que acabou de acontecer.

Contudo, o filme arrebatou a estatueta na categoria Melhor Roteiro Adaptado. Com uma fotografia peculiar, onde luzes e sombras se alternam como os sentimentos dos protagonistas, Os Descendentes é um filme razoável, que vale para uma daquelas noites de sábado, sem nada para fazer. Uma pena, pois poderia ser muito mais.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Why don't you come on over?

50 manias típicas de jornalistas

Do blog Desilusões Perdidas

1. Mania de guardar recorte de matéria pra nunca mais ler.
2. Mania de reclamar demais.
3. Mania de passar a madrugada na internet, mesmo depois de um dia intenso de trabalho.
4. Mania de tomar remédio pra dormir.
5. Mania de achar que sabe tudo.

6. Mania de ter opinião sobre tudo.
7. Mania de se sentir perseguido por todos.
8. Mania de querer salvar o mundo.
9. Mania de liberdade.
10. Mania de acreditar que um dia a coisa melhora.

11. Mania de recorrer a velhos clichês na hora de escrever uma matéria.
12. Mania de ajeitar o cabelo um milhão de vezes antes do link.
13. Mania de dar carteirada.
14. Mania de comer e escrever um texto ao mesmo tempo.
15. Mania de deixar o teclado todo cheio de gordura e resto de comida.

16. Mania de querer tudo pra ontem.
17. Mania de fingir riqueza pros vizinhos.
18. Mania de ter um blog.
19. Mania de chegar atrasado às pautas.
20. Mania de tomar café.

21. Mania de escrever um texto enorme e depois ficar cortando pra caber.
22. Mania de ir pra rua e ficar olhando pra tudo e todos, feito cachorro que vive preso em apartamento.
23. Mania de ler 50 vezes o próprio nome estampado na primeira página do jornal.
24. Mania de falar mal dos outros, principalmente de outros jornalistas.
25. Mania de declarar guerra aos assessores de imprensa.

26. Mania de achar que tudo pode render, pelo menos, uma nota.
27. Mania de ficar feliz com qualquer presentinho, feito cachorro carente.
28. Mania de rabiscar umas três frases por página do bloquinho e já pular pra outra.
29. Mania de encher o saco dos amigos na caça de bons personagens.
30. Mania de encher o texto de aspas.

31. Mania de ser DJ nas horas vagas.
32. Mania de ser poeta nas horas vagas.
33. Mania de ser esquisito.
34. Mania de namorar outros jornalistas.
35. Mania de roubar a pauta dos outros.

36. Mania de “produzir” fotos, de orientar personagem, de acabar com a naturalidade.
37. Mania de ser saudosista.
38. Mania de requentar informação.
39. Mania de fazer pergunta óbvia.
40. Mania de se fingir de morto na reunião de pauta pra não pegar roubada do chefe.

41. Mania de pisar no pé do colega na luta pra chegar mais perto do entrevistado.
42. Mania de achar que vai conseguir furos fuçando no Twitter.
43. Mania de desorganização.
44. Mania de parecer envergonhado na hora de tietar entrevistado famoso.
45. Mania de esconder o time de coração quando se é jornalista esportivo.

46. Mania de se sentir mais importante só porque trabalha num jornal grande.
47. Mania de se sentir menos importante só porque trabalha num jornal pequeno.
48. Mania de ir ao bar e passar 76,7% do tempo falando só de jornalismo.
49. Mania de ir ao bar e passar 23,3% do tempo discutindo quem é e quem não é gay na redação.
50. Mania de dizer que não tem manias.