As melhores coisas acontecem na surdina, no baixo relevo, no côncavo, nada de barulho e nada complexo, no simples espaço e na luz. Trata-se de uma claridade que permeia as horas e que encontra equilíbrio no meio de tudo o que está por vir. Um alinhamento, um devir. E este sabe a luz do sol, no seu melhor, enquanto não se apaga o dia.
Bilhetes escritos à mão com o traço da pessoa que escreve; um café na mesa, um recado atrás da porta, coisas assim simples que quebram a rotina e fazem pensar que o mundo gira. As melhores coisas não têm prazo, não têm dia nem hora marcados e não precisa de aviso. Lendo os sinais, as coisas podem se confirmar. Isto pode acontecer, sempre.
É claro que tudo está nos olhos de quem vê e tudo depende disso, uma fração e desvio do olhar e tudo muda de foco, de sentido, podendo virar uma aspereza, uma tristeza, algo assim, poroso e desuniforme. As melhores coisas derrubam as tristezas, alargam o caminho e trazem a paz da simplicidade nos gestos. Não se precisa de barulho ou de holofotes diante das melhores coisas, pois elas acontecem no reino velado da existência e podem mudar o rumo de quem as procura.
Antes das melhores coisas, um cheiro úmido no ar do que está por vir. Elas estão ali e vão acontecendo, devagar, porque o sol veio para ficar uma temporada depois do frio que fez ou do calor que fará. As melhores coisas dependem da vontade, mas acontecem ao natural, não se pode forçá-las, porque ali é o terreno do frágil, do pequeno mundo, no qual as coisas do mundo grande não entram nem interferem.
Laura Pausini & James Blunt - Primavera Anticipada