sábado, 25 de setembro de 2010

As melhores coisas

(Texto de Eduardo Dall'Alba)

As melhores coisas acontecem na surdina, no baixo relevo, no côncavo, nada de barulho e nada complexo, no simples espaço e na luz. Trata-se de uma claridade que permeia as horas e que encontra equilíbrio no meio de tudo o que está por vir. Um alinhamento, um devir. E este sabe a luz do sol, no seu melhor, enquanto não se apaga o dia.

Bilhetes escritos à mão com o traço da pessoa que escreve; um café na mesa, um recado atrás da porta, coisas assim simples que quebram a rotina e fazem pensar que o mundo gira. As melhores coisas não têm prazo, não têm dia nem hora marcados e não precisa de aviso. Lendo os sinais, as coisas podem se confirmar. Isto pode acontecer, sempre.

Há na estrela da tarde qualquer coisa de inefável, qualquer coisa de brilho, e estrela não se empresta: ou se tem ou não se tem. É como o brilho dos olhos diante de alguma coisa, em alguma parte, seu reflexo nos olhos dos outros, e em tudo que existe desde sempre.

É claro que tudo está nos olhos de quem vê e tudo depende disso, uma fração e desvio do olhar e tudo muda de foco, de sentido, podendo virar uma aspereza, uma tristeza, algo assim, poroso e desuniforme. As melhores coisas derrubam as tristezas, alargam o caminho e trazem a paz da simplicidade nos gestos. Não se precisa de barulho ou de holofotes diante das melhores coisas, pois elas acontecem no reino velado da existência e podem mudar o rumo de quem as procura.

Antes das melhores coisas, um cheiro úmido no ar do que está por vir. Elas estão ali e vão acontecendo, devagar, porque o sol veio para ficar uma temporada depois do frio que fez ou do calor que fará. As melhores coisas dependem da vontade, mas acontecem ao natural, não se pode forçá-las, porque ali é o terreno do frágil, do pequeno mundo, no qual as coisas do mundo grande não entram nem interferem.

As melhores coisas não precisam de placa de anúncio, não são vistas à venda em supermercados ou em farmácias. Antes, podem ser identificadas em certo modo de olhar, falar, correr os olhos, sentar-se diante de, sorrir e andar. Às vezes, nos pequenos, e outras, nos grandes e corajosos passos que são necessários à vida. As melhores coisas acontecem em surdina, como a primavera que chega na hora. Sem palavras.


Laura Pausini & James Blunt - Primavera Anticipada

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Desgruda!

Eu nunca gostei muito desses casais de novela e da vida real que são melosos demais e muito menos de apelidos carinhosos entre a dupla. Pra mim, o excesso é sempre dispensável. "Amorzinho" pra cá, "Lovezinho" pra lá. Pra que isso, gente? Parece que tudo fica no diminutivo, a vida agora só faz sentido se as coisas forem pequenininhas, fofinhas... Não, né?! Vamos evoluir, gente.

Uma coisa é certa: gente que namora fica chata. Esquece dos amigos, dos parentes, do planeta Terra. Começa a viver em um mundo de alienação: a sua vida é o "Bebezinho" ou a "Fonfon". O seu programa de final de semana é ficar em casa com o (a) "More", assistindo filminho e comendo pipoquinha. Na hora do almoço, fica grudado ao telefone, pedindo o que o "Neneinzinho" tá comendo, se tem limão no refrigerante, se tá sentindo saudades, dizendo eu te amo. E na hora de desligar é o fim da picada: "- Desliga você primeiro. - Não, você! - Ah, desliga você, amor... - Não, só depois de você...".

Mensagem por celular então é uma avalanche. Compram o pacote de bônus da operadora de celular para poder gastar tudo com o "Feijãozinho" e a "Moranguinho". O Orkut, que alguns conseguem deixar ridículo normalmente, vira uma piada completa. A pessoa perde a identidade! É algo incrivelmente... sem noção! Se a menina se chama Maria e o namorado Pedro, o perfil virtual torna-se Maria & Pedro Love4Ever. Oi? Se tiver profile no Twitter, não siga. Metade dos posts serão de declarações, perguntas imbecis ou então aquele lenga-lenga inútil (e idiota):

"@maria&pedro4ever Tá com saudades, amore?
@pedro&maria4ever Tô... e tu, também tá?
@maria&pedro4ever Também... mas eu tô com mais saudades do que tu!
@pedro&maria4ever Não, eu tô com mais..."

E por aí vai...

Se o casal for junto a um casamento, então, é melhor você sentar do outro lado do salão. É um tal de "o nosso vai ser assim, vai ter aquilo ali, vou trocar de vestido 3 vezes, você vai tá linda até se estiver de calça jeans". Festa junto com o casal? Melhor ficar em casa, com certeza. Eles vão se agarrar o tempo todo, trocar juras de amor eterno, e você ali, do lado, morrendo de vontade de tá com o seu pijama do Super-Homem e escrevendo no seu blog...

Que fique bem claro que esse não é um post anti-namoro ou contra o amor. É só uma explanação sobre uma coisa que, de verdade, irrita muito. Aposto que você concorda comigo. E se você vive esse momento açúcar-grudento, melhor repensar. Porque, vamos combinar: um casal que se respeita, sabe os limites de espaço e não gruda-o-tempo-todo é muito mais bacana de se ver (e de ter por perto).

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Orgulho Gaúcho

"Foi o 20 de setembro o precursor da liberdade..."

A busca pela liberdade e por tudo aquilo que sempre foi seu de direito resultou numa das batalhas mais conhecidas da história de nosso país. Um grupo da então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, liderado por Bento Gonçalves, Davi Canabarro e Giuseppe Garibaldi mostrou sua força. Como consequência de sua vitória, resultou a declaração de independência da província como estado republicano, dando origem à República Rio-Grandense. Em 20 de setembro de 1845, os gaúchos eram livres.

Nascia aí o orgulho de ser desta terra. Orgulho de ter esta história. Orgulho de lutar, lutar e nunca desistir. A Revolução Farroupilha estendeu-se por 10 anos. As coisas não foram fáceis, nada foi obtido gratuitamente. Nossos heróis farrapos abdicaram de suas vidas para dar vida ao povo do Rio Grande. Abandonaram seus lares, suas famílias e foram em busca de um ideal. Se você é gaúcho, entende esse sentimento. Se você não é, talvez possa entender.

Importante: se você não lembra dos motivos do 20 de setembro ser tão festejado no Sul do país porque dormia nas aulas de história, basta lembrar-se da minissérie "A Casa das Sete Mulheres". A trama foi responsável por levar ao Brasil e ao mundo os pontos principais da Guerra dos Farrapos e emocionou com suas histórias parelelas. Claro, Manuela não existiu e dizem por aí que Anita Garibaldi não era tão bonita como a da televisão; mas não importa. O que importa é que fomos admirados e compreendidos.

O Orgulho Gaúcho vai muito além da história. É o orgulho do sotaque, do jeito de expressar-se, das tradições. Orgulho da pilcha, da cuia de chimarrão sempre presente. Do pinhão na chapa, da geada nas manhãs de inverno, das danças típicas. Orgulho da sinceridade, do sorriso, do jeito simples, aberto e alegre de receber o outro. De gostar de ver a mesa farta, das raízes que vem lá da Itália, das tantas formas de se dizer "olá". Do "frio de renguear cusco", do vento minuano que sopra no fim de tarde, do carreteiro de charque e do churrasco que já é tradição.

Ser gaúcho é muito mais do que ter nascido no lado de baixo do Brasil. Ser gaúcho é ter no peito o amor pelo campo, pelo canto dos passarinhos, por poder dizer "bah, tchê!". Ser gaúcho é acordar de manhã e agradecer por simplesmente... viver.

Veja umas imagens guapas e canta o Hino do Rio Grande do Sul:



"Todos os dias o Rio Grande desperta e vai em frente. Altivo e sonhador, alimentando os seus ideiais, porque essa é a nossa tradição. Todos os dias, sob esse imenso céu que nos protege, o futuro é construído em cada canto, por cada um de nós. Essa é a marca do gaúcho. Todos os dias, essa terra fértil e generosa cresce e se desenvolve, pois tem ao seu lado a força de uma paixão."


Eu sou gaúcho. Com muito orgulho. Com muito amor.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Valeu a pena!

O 7 de setembro já passou, mas deixou em mim alguns 'poréns'. Primeiro, quero dizer que antes de ser brasileiro, eu sou gaúcho. Sim, gaúcho, com orgulho. Orgulho do sotaque, dos costumes e tradições, do jeito de ser e enfrentar a vida. Com orgulho do chimarrão, do pinhão, das raízes plantadas lá na Itália. Então, orgulho da polenta, do queijo, do salame e do vinho.

Nos últimos dias pude conviver e conversar com pessoas de todos os cantos do país. Descobri que o Acre existe (!), que os paranaenses também amam o Rio Grande; descobri que os mineiros são tão simpáticos que chega a dar raiva, que os pernambucanos morreriam por sua terra e que não estão nem aí para o que podem pensar deles. Percebi que o pessoal de São Paulo admira a nossa calmaria e que os cariocas não gostam do frio, mas a galera de Brasília gosta.

O que estou tentando dizer é que, não importa de onde você seja, o orgulho de poder mostrar ao outro sua forma de viver sempre será gigantesco: como é bom ouvir elogios à sua cidade, à sua simpatia, à sua universidade, ao seu jeito descomplicado de olhar o mundo. Gente, é tudo tão simples. Passa tão rápido. E deixa marcas...

Quem vivenciou esses últimos dias, em Caxias do Sul, no Intercom 2010, entende o que escrevo. E caberia falar muito mais... Vocês não podem imaginar o quanto a universidade toda trabalhou para que esse evento fosse impecável. E foi! O que mais eu tenho para falar? Fica pra depois, quando eu juntar mais fotos, concatenar as lembranças. Por enquanto, obrigado. Foram 5 dias que entraram pra história!


"Que bom se todo dia fosse sempre assim..."

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Setembro...


O tempo passa cada vez mais rápido. Vai dizer: parece que foi ontem que você pulou as sete ondinhas no Reveillon, fazendo mil planos para o ano que estava começando. E aí, quando se deu conta, não conseguiu realizar nem metade daquela tradicional lista de metas, engordou, emagreceu, começou a namorar, terminou, o inverno chegou, você tomou incontáveis xícaras de café, fez a vacina contra a gripe, foi as festas e shows que tinha vontade. Teve seus momentos de reflexão, ficou sozinho para ouvir aquela música que só você curte, cantou bem alto no chuveiro e perdeu a hora, várias vezes.

Vão acabar as aulas. Você vai ficar longe dos seus amigos por um tempo, mas vai ligar todo dia para aquela pessoa especial só para contar que você viu uma cena que o fez lembrar dela. E daqui uns tempos, você já vai estar atrás do presente de Natal da sua mãe e do seu pai, torcendo para que o parente mais legal tenha tirado você no Amigo-Secreto da família, vai se esbaldar na ceia e ficar sentindo-se culpado por ter comido tanto. Mas, isso vai passar. Vai chegar o verão, a época dos sorvetes, da cerveja gelada, da conversa jogada fora.

E aí, sem que você perceba, setembro vai chegar de novo. Do ano que vem! E o que a gente faz? Aproveita!



Daughtry - SEPTEMBER

Como o tempo passou, todos os problemas que tivemos
E todas aqueles dias que passamos no lago
Será que tudo isso foi em vão, todas as promessas que fizemos?
Uma à uma, elas desaparecem do mesmo jeito

De todas as coisas que eu ainda lembro
O verão nunca pareceu o mesmo
Os anos passam e o tempo parece voar
Mas as memórias permanecem
No meio de Setembro, nós ainda brincávamos na chuva
Nada a perder, mas tudo a ganhar
Refletindo agora como as coisas poderiam ter sido...
Valeu a pena no final!

Agora tudo parece tão claro, não sobrou nada à temer
Então nós fizemos nosso caminho encontrando o que era real
Agora os dias são tão longos que o verão está passando
Nós alcançamos alguma coisa que já se foi...

Nós sabíamos que teríamos que deixar essa cidade
Mas nós nunca sabíamos quando e nem como
Nós terminaríamos aqui da maneira que somos?
Sim, nós sabíamos que tínhamos que deixar essa cidade
Mas nós nunca sabíamos quando e nem como...

De todas as coisas que eu ainda lembro
O verão nunca pareceu o mesmo
Os anos passam e o tempo parece voar
Mas as memórias permanecem
No meio de Setembro, nós ainda brincávamos na chuva
Nada a perder além de tudo a ganhar
Refletindo agora como as coisas poderiam ter sido
Valeu a pena no final...